É sabido que as formas determinam as funções. As nossas abelhas, ou melhor, as suas colónias também apresentam padrões e formas características na Natureza. Foi graças a esses conhecimentos que se projectaram e construíram as colmeias que hoje utilizamos.
Quer em contexto de formação, quer na própria assistência a apicultores, muitas vezes sentia dificuldade em ilustrar a conformação espacial de uma colónia de abelhas e demais componentes dentro da colmeia.
A concepção mental de estruturas como as que referi nem sempre é fácil e para uma observação directa, acedendo ao interior, têm de se “desmanchar” quadro a quadro. Quando o fazemos, e temos de o fazer, acabamos por perder a noção do todo, do conjunto funcional e “invisível” que nos é vedado pela opacidade da colmeia ou dos favos de cera.
O pior é que tanto os favos naturais como os quadros se encontram fisicamente separados, o que dificulta ainda mais o modelo.
Ainda me lembro do dia em que o meu amigo Leão, que infelizmente já não está entre nós, retirou todos os quadros do ninho da única colmeia que eu possuía. Estava infectada com Ascosferiose, e pensei eu: “não morre do mal, morre da cura...”, a “indivisibilidade” do ninho, tinha sido dividida... A parte que albergava o “segredo” fora dramaticamente exposta sem qualquer pudor, e o pior é que não vi nada que não tivesse visto antes, a alma que eu imaginava no cerne da colónia, eram quadros iguais aos das extremidades... sobreviveu, o que faltava em “escrúpulos” ao amigo Leão, sobrava-lhe em sabedoria.
O modelo (teórico) que habitualmente apresento aos formandos, candidatos a apicultores, passa pelo seguinte:
Hipotéticamente coloca-se espuma de poliuretano dentro de uma caixa de madeira com as dimensões de uma colmeia, até cerca de 5 ou 6 cm de altura. Espera-se que solidifique e coloca-se uma melancia lá dentro. Finalmente enche-se o resto da caixa com espuma, 5 ou 6 cm acima da melancia.
Quando tudo solidificar retira-se o bloco de espuma de dentro da caixa e corta-se em dez “fatias” iguais, tal como na figura seguinte:
Não é precisa muita imaginação para comparar as “fatias” obtidas com os quadros de uma colmeia equilibrada. Primeiro os quadros das extremidades só com mel; depois surge o pólen; pólen com criação; criação e assim sucessivamente em sentido inverso.
Se alguém gracejar com as pevides, obviamente que representam as abelhas...
O desenho espacial da colónia de abelhas, tal como tudo na Natureza, prende-se com questões económicas. A “bola” em que a rainha dispõe a postura, tal como a “bola” em que as abelhas se resguardam durante o Inverno, permitem uma poupança e melhor aproveitamento do calor que irradia a partir do centro.
Envolvendo a “bola” de criação está logo o pólen, para uma mobilização mais rápida, dado que este é o principal alimento das abelhas na fase larvar. Finalmente o mel, cujo armazenamento não tem uma forma esférica ou elipsoidal por causa do quadro.
Teria também a sua graça, em vez da “quadratura do círculo”, as abelhas traçariam a circunferência do quadro...
Quando isto se verifica, podemos dizer que a colmeia se encontra equilibrada e aparenta estar tudo em ordem. Quando o desenho inicial está alterado, das duas três... ou por motivos sanitários houve uma regressão na criação dos quadros centrais, também motivada por problemas com a rainha, ou na última visita o apicultor não procedeu da melhor forma, trocando a ordem dos quadros.
Pelos motivos apresentados, devemos recolocar os quadros na posição original e só depois proceder a outras tarefas de maneio apícola.
Em determinadas situações o apicultor pode e deve desequilibrar a colónia, nomeadamente quando o objectivo é estimulá-la a crescer e desenvolver-se. Não é demais advertir que para o efeito se devem verificar uma série de requisitos e ainda assim todo o cuidado é pouco.
Tal prática não é mais do que aplicar os conhecimentos acerca da economia de calor que as abelhas obtém ao agruparem a criação numa “bola”:
1º A colónia encontra-se equilibrada. O calor irradia do centro para a extremidade da elipse tracejada a azul e que coincide com a área ocupada pela criação.
2º Os quadros com criação foram deslocados da posição original, ficando parte da criação para lá da zona de irradiação de calor: colmeia desequilibrada.
3º As abelhas adultas posicionam-se de uma forma natural abrangendo toda a criação, ficando alguns quadros centrais com espaços “aquecidos” mas ainda sem criação.
4º A rainha aproveita a ampliação da área aquecida para a ocupar com postura, aumentando assim o “ninho” e consequentemente a colónia.
Os pré requisitos a verificar para este trabalho compreendem sobretudo uma população forte de abelhas adultas, boas condições climatéricas e disponibilidade de pólen e néctar. Caso contrário o arrefecimento da criação pode levar à falência da colónia.
Normalmente só uso este método quando transfiro um núcleo para uma colmeia de dez quadros, e só o faço com temperaturas altas.
04 fevereiro, 2009
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1 comentário:
boa tarde
alguem me sabe dizer se é seguro fazer transumancia de noite?
já me disseram que de noite todas as abelhas se encontram na colmeia.
mas gostava ouvir um testemunho de algume que já o tenha feito
cumprimentos
rui santos
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