16 fevereiro, 2009
Uma experiência apícola muito curiosa...
Coisas dos antigos, mas numa reflexão muito actual
Hipótese: A existência de factores ambientais menos óbvios ou difíceis de detectar, poderão determinar o desenvolvimento das colónias de abelhas e respectivas produções.
Obviamente que não me refiro à quantidade/qualidade da flora; à chuva; à seca; à neve; aos ventos; ao frio e tantos outros que difíceis de prever, são no entanto muito fáceis de detectar e avaliar.
Também não vou dizer quais são, prefiro que sigam o meu raciocínio e concluam por vós próprios. Hoje é Domingo, 10 horas da manhã, será que consigo raciocinar? Vou tentar...
Os Factos: O meu calendário apícola de 2008 com 30 colmeias iniciais:
*(Populações) Apiário nº 1 Médio; nº 2 Fraco; nº 3 Forte; nº 4 Forte.
** (Populações) Apiário nº 1 Médio/Forte; nº 2 Fraco/Médio; nº 3 Forte; Nº 4 Muito Forte.
Os Locais: Entre os dois apiários mais afastados, a distância não é superior a 4 km, a flora é igual nos quatro locais: flora de Primavera rica em Rosmaninho e Esteva, algum Alecrim, Medronho e Urze, esta última pouco mais que vestigial. No Inverno têm Eucalipto com floração quase nula e temperaturas demasiado baixas. No Verão as colmeias são deslocadas para outros locais.
Apiários nº1 e 3 expostos a Sul, os nº 2 e 4 expostos a Nascente. Todos estão protegidos (na retaguarda) contra os ventos, de uma forma natural e ou artifial.
Resumidamente:
Factores externos “facilmente identificáveis”: Todos os apiários, salvo melhor observação, estiveram sujeitos às mesmas circunstâncias, em termos de flora e clima.
Ainda que houvessem diferenças significativas na flora, o tempo que as abelhas tiveram para a explorar (entre Novembro e Fevereiro) foi mínimo, por causa do clima e nunca justificaria as diferenças entre as colónias.
Factores internos: Todas as colónias inicialmente muito fortes, com rainhas aproximadamente da mesma idade, tiveram tratamento igual e foram distribuídas aleatoriamente pelos quatro apiários (muito próximos).
Quando me refiro à qualidade das rainhas, afirmo-o porque mesmo no apiário mais fraco (nº2), a quantidade/qualidade da postura/criação relativamente à população adulta demonstra um arranque excelente e que decerto dimensionará as colónias antes do fim do mês.
Ausência de sintomas patológicos em qualquer um dos quatro apiários.
Questão: Porque razão, partindo de colónias inicialmente tão homogéneas, passando por circunstâncias externas aparentemente iguais, se obtiveram resultados diferentes?
Não acredito que entre meados de Outubro de 2008, data em que tratei contra a Varroose, em que todas as colónias estavam fortes, e finais de Novembro de 2008, quando tirei as tiras de medicamento e registei as primeiras diferenças, as abelhas dos apiários nº 3 e 4 tivessem aprovisionado a colmeia com algum nutriente especial que desse mais vigor às colónias. Até porque o apiário nº 2 (mais fraco), está a cerca de um km do nº 3.
Por outro lado, as condições climatéricas adversas, poucas oportunidades deram para a recolha de qualquer coisa nesse período.
Entre Novembro e Fevereiro (dia 14), os apiários mais fortes (nº3 e 4) foram alimentados duas vezes, os mais fracos (nº 1 e 2) foram alimentados três vezes.
Os factos que nos escapam...:
1- Ao contrário do que se postula nas regras da boa instalação de apiários, quando nos aconselham a proteger as colmeias dos ventos dominantes, atrás de uma encosta, ou sebes naturais e artificiais, não existirão outros acidentes do terreno que terão maior influência nos ventos e massas de ar frio? Nomeadamente empurrando-os para o apiário?
Não nos é possível identificar ou prever tais coisas.
Posso-vos dizer que desde que vivo no campo campo, não estou a gaguejar, é que antes vivia numa aldeia... no campo, tenho uma maior sensibilidade para estes fenómenos do que antes. Ainda assim insuficiente.
Senão “vejam” isto: Nas noites quentes de Verão, quando me desloco de carro nestes locais, numa estrada de “sobe e desce”, é muito notória a diferença de temperatura entre o “cabeço” e a “cova”, percebe-se perfeitamente que as massas de ar frio descem pelos vales, aparecendo acompanhar as linhas de água, como se de um rio invisível se tratasse. Disse “de carro” porque a velocidade é maior e notamos melhor a diferença de temperatura, a variação é menos gradual.
Quantas vezes não colocamos um apiário bem protegido do vento, a meia encosta, e... acabamos por colocá-lo no “leito” de um destes rios de ar frio? De Verão as abelhas até agradecem, mas no Inverno...
2- As massas rochosas e minerais que se encontram no subsolo são diferentes de local para local. Tenho os quatro apiários em zonas de xisto. No entanto não é necessária grande deslocação para encontrar granitos, calcários ou argilas. Ainda assim, dentro de cada um destes grupos existirão sub grupos com outros constituintes e efeitos de proximidade com outras características.
As massas de água que existem e ou circulam no subsolo, decerto também influenciarão as características de cada local.
Não querendo entrar em exoterismos, os minerais, cristais, circulação de águas e outros constituintes do subsolo, acabam por “vibrar”, emitir radiações e de certa forma influenciar muitas características da superfície. As zonas de granito têm maiores níveis de radiação natural que outros locais, por exemplo.
Há tempos alguém dizia num programa de televisão, que o “desligar” do Homem à Natureza tem levado a uma perda de sensibilidade para boa parte dos estímulos externos, que outrora eram determinantes à sobrevivência dos humanos. E ainda hoje o são para os animais selvagens.
No exemplo, até se referiam ao facto do Homem andar sempre calçado e perder boa parte dos sinais , estímulos e fenómenos telúricos.
Agora não me vão andar para aí descalços a “apalpar” o solo do próximo apiário, senão ainda culpam a apicultura pelo fecho de mais uma fábrica de calçado. Também, para quem já tem as costas largas...
Um amigo meu, apicultor, pessoa bastante conceituada e a ocupar um alto cargo, dizia-me há tempos que quando percorria determinada estrada na Serra de S. Mamede – Portalegre, sentia o motor do carro a perder potência, e “sempre” no mesmo local! Justificava tal fenómeno com a existência de qualquer massa mineral (magnetite ou qualquer coisa do género), que havia no subsolo e afectava o motor e instrumentos do veículo.
Porque será que quando tocamos nestes assuntos, menos óbvios, temos sempre de recorrer ao estatuto ou ao curriculum da testemunha, para que não restem dúvidas acerca do estranho relato que se segue? Fica para outro dia...
De qualquer forma, é do conhecimento geral a existência em quase todas as localidades, daqueles indivíduos, “vedores”, que com a ajuda de uma varinha flectida, percebem no terreno as vibrações emitidas pelas “veias de água” ou lençóis freáticos. Local onde mais tarde se abre um poço.
Conclusão:...
Mas o que têm as abelhas a ver com deslocações de ar frio, depósitos minerais no subsolo, lençóis freáticos e respectivas radiações ou vibrações? Em que medida, factores que nós não nos apercebemos, podem afectar as vidas daqueles insectos?
Creio que já forneci a melhor pista: “ factores que nós não nos apercebemos”, factores para os quais não temos orgãos sensoriais, o que não invalida que as abelhas não os sintam, e por eles sejam afectadas.
Esta problemática, em que temos sempre a tentação de canalizar para as nossas vivências pessoais situações referentes a outras pessoas e principalmente a outros seres vivos, muitas vezes tolda-nos o raciocínio. Senão, veja-se esta anedota que vi ou ouvi já não me lembro onde:
Numa escola, o professor pediu a todos os alunos que fizessem uma redacção sobre uma família pobre. Entre todos os trabalhos que os alunos fizeram, houve um, feito por um rapaz rico que lhe chamou particularmente a atenção: “Era uma vez uma família em que todos eram pobres. O pai era pobre, a mãe era pobre, os filhos também, tal como o mordomo, o jardineiro e o motorista, todos eram pobres...”
Uma criança rica não conseguia conceber uma família sem jardineiro, motorista,... etc. Da mesma forma, muitas vezes somos induzidos em erro por não nos conseguirmos despir de preconceitos, que se agarram a nós que nem Varroas, e perceber que os elementos que “comandam” a vida das abelhas poderão ser muito distintos dos nossos.
É exemplo disso a forma como elas se apercebem dos campos magnéticos, e nós só os “sentimos” munidos duma bússola...
Outro exemplo: Stephen Jay Gould, um conceituado cientista e excelente divulgador cientifico, apresenta-nos na obra “O Polegar do Panda”, uma situação em que investigadores não conseguiam de modo algum perceber como determinadas bactérias (micróbios) se orientavam. Tentavam à viva força explicar tal facto a luz da força gravitacional. Mas como é que animais com uma massa corporal praticamente desprezável, podiam ser atraídos pela Terra?
Foi necessária alguma “humildade” para perceber que nem tudo está sujeito aos fenómenos que afectam os humanos. Descobriram então nas ditas bactérias, que alguns grânulos de magnetite eram responsáveis pela orientação destes micróbios através do campo magnético da Terra, chamaram-lhes bactérias magnetotácticas...
Em jeito de conclusão “de facto”, serão muitos os factores que não controlamos quando fazemos o assentamento de um apiário, mesmo munidos da melhor vontade e conhecimentos.
Restam-nos duas opções: a tentativa e erro, ou seja, se tudo devia ter corrido bem e não correu, se a culpa não foi do apicultor ou das abelhas, por exclusão de partes são os restantes factores ambientais que “pagam as favas”. A outra opção leva-nos a ouvir mais vezes os idosos, ligados à terra e aos “ritmos” naturais, e com eles aprendermos alguma coisa.
Não sei se trouxe alguma “luz” sobre este assunto...
Mas venham lá daí esses comentários, onde se relatem casos semelhantes, em que situações aparentemente controladas do ponto de vista apícola resvalem para surpresas negativas ou positivas.
Quem me falar das “queimadas” com aguardente e mel, protagonizadas pelo Padre Fontes para exorcizar as colmeias da Varroose, leva um cartão amarelo...
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2 comentários:
É intrigante essa situação, está alem da minha capacidade para poder ajuda-lo, tenho a certeza que com os seus conhecimentos, técnicas e perspicácia vai conseguir descobrir a solução do "bruxedo".
há e uma aparte, não vá descalço até ao apiário :D
Abraço
Ferradela
pois amigo joaquim nâo me tinha passado pela mona que esses factores poderiam influênciar a actividade das abelhas ou não ,se chegar a algumas conclusões sobre o assunto sou todo ouvidos;
Até outro dia
MELFONTENOVA
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