A Cresta...
É um dos momentos mais aguardados do ano apícola, o culminar de um ciclo.
Só è superado pelo acto da venda do mel, aliás... pelo momento em que se recebe o cheque, aliás... quando nos confirmam que o cheque tem fundo...
Pessoalmente é das etapas que menos aprecio na apicultura, a cresta ainda passa, mas a venda de mel nunca me seduziu muito, apesar de necessária.
Como faço as coisas ?
O trabalho começa habitualmente na semana anterior, em que numa última visita aos apiários verifico o estado de maturação do mel.
Começo muito cedo, no relógio e no calendário, cerca das 06:00 horas da manhã nos últimos dias de Maio ou primeiros de Junho. A floração do Rosmaninho já cessou há cerca de um mês e não existem mais fontes de néctar nestes locais.
No dia anterior ao da cresta começo por lavar o estrado da carrinha de caixa aberta, chego até a colocar um plástico onde assentam as alças. Levo inclusivamente um lençol de linho com que cubro as alças sobre a carrinha, à medida que aí as vamos colocando. Caso contrário levaria mais abelhas do que mel para a melaria.
Nunca utilizo fumo durante a cresta, a escova para separar as abelhas dos quadros de mel é substituída por um ramo de Estevas ou outro arbusto. Quando começa a estar muito melado, rapidamente o troco por outro.
Levo sempre duas alças vazias.
Uma serve para colocar os quadros com mel da primeira alça a ser crestada. Como esta fica vazia serve para albergar os quadros da próxima, e assim sucessivamente. A segunda alça só será necessária se houver criação sobre os ninhos, ou seja, nos quadros de mel das alças.
Uma das “discussões” mais comuns nos apicultores da região prende-se precisamente com a maturação do mel e a data de cresta. Boa parte dos apicultores continua a crestar em função de datas, independentemente da maturação do mel.
Dizem inclusivamente que só a partir de Julho é que o mel está pronto, outros ainda dizem que só no quarto minguante de Agosto, quando não há criação. Ora tal afirmação deixou de fazer sentido para quem usa colmeias móveis, uma vez que os espaços da criação e da produção de mel são distintos.
Por causa da manutenção de várias alças de mel sobre o ninho, este ano um apicultor sofreu sérias perdas nos dias de maior calor: a cera derreteu nas alças de cima e o mel escorreu pela colmeia abaixo...
De facto, o mel de Rosmaninho em finais de Maio, princípios de Junho não está totalmente operculado, mas a quantidade de alvéolos abertos é mínima, nada que coloque em risco o armazenamento do mel.
Até costumo fazer um truque: sacudo com algum vigor (mas sem quebrar) um quadro de mel menos operculado sobre o tampo de uma colmeia e verifico se caíram gotas de néctar. Se tal suceder, o teor de humidade é muito elevado: não se pode crestar, se o mel permanecer nos favos está tudo bem.
O processo da cresta...
Começo sempre por colocar a alça vazia sobre o tampo da segunda colmeia da fila, abro a primeira e começo a transferir os quadros.
Quando a alça está cheia, levo-a de imediato para a carrinha e cubro-a com o lençol para não atrair abelhas. Com o levanta quadros destaco a alça que ficou vazia, coloco-a sobre o tampo da colmeia seguinte e assim sucessivamente até à última alça do apiário.
Por vezes surge o problema, a meio da cresta encontramos uma alça com criação.
Nesta fase há que tomar decisões, se o(s) quadro(s) de criação tiverem poucas larvas e muito mel, normalmente ignoro a criação e recolho os quadros como se tivessem apenas mel. Se tiver apenas ovos e mel, o investimento é pequeno para as abelhas e prossigo da mesma forma, mas quando se tratam de grandes “manchas” de larvas já grandes ou operculadas, opto por deixar esse quadro na alça original.
Agora falta-me uma alça para continuar a receber os quadros de mel... foi por isso que trouxe uma suplente.
Todas as colmeias após a cresta ficaram “rasas” pelo ninho, salvo a que tinha criação que ficou com uma alça com vários quadros de criação.
Continuando a cresta, se me surgirem novos casos de criação nas alças não volto a repetir o processo, apenas “limpo” as abelhas do(s) respectivo(s) quadro(s) e levo-o(s) para a alça mais atrás que ficou com criação. Se ainda lá couberem claro, senão tenho de recorrer a nova alça vazia.
Não vejo grande problema em juntar os quadros de alça com criação de várias colmeias sobre o mesmo ninho, as dadoras pouco perdem e a receptora beneficia bastante com este acréscimo de população. Por outro lado também se poupam alças sobre os ninhos.
Há muito tempo que não recorro a este método, de facto já há anos que não me aparece criação nas alças. Curiosamente, este ano foram muitas as colmeias onde este fenómeno se deu, mas à data de cresta as alças só tinham mel, a criação regredira.
Fica mais um conselho para quem não prescinde do fumigador na cresta, poderá usá-lo mas com muito cuidado para não deixar cheiro de fumo no mel. O ideal será apontar o fumo de uma forma oblíqua e não directamente sobre os quadros das alças.
À chegada à melaria costumo descarregar rapidamente as alças para um local fresco e seco, não vão as alças expostas atrair mais abelhas. Já me aconteceu isso um ano e por pouco os vizinhos não fizeram um abaixo-assinado para me arranjarem um novo endereço...
29 junho, 2009
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17 comentários:
Parabens pelo blog. Tem conteudos muito educativos para quem inicia a actividade como eu. Relativamente à cresta qual foi a produção media das colmeias, nomeadamente a lusitana, para fazer uma comparação com as 3 que me restaram do ano passado - uma ficou zanganeira.
Caro apicultor,
Esta Primavera a produtividade das colmeias ficou muito aquém do esperado (fica sempre), mas este ano as causas foram mesmo climatéricas.
Entre o fim da primeira semana de Março e a primeira de Maio (a Primavera propriamente dita para produzir mel de Rosmaninho), consegui contar cerca de 10 dias com boas condições para o trabalho das abelhas, (os restantes 50 entre frio, chuva e vento não serviram...)
Desta feita, entre Lusitanas e Reversíveis (a diferença não foi nada notória) quase todas tinham três alças, onde a de cima estava vazia, a do meio bem cheia e a primeira tinha mel mas em pouca quantidade, esta alça teve criação no início da Primavera em quase todas as colmeias.
Apesar de ter colmeias com 40 e 50Kg de mel, posso apontar para uma média de 15 kg mel/colónia o que é francamente baixo...
Devo acrescentar que desdobrei a maioria das colónias antes da Primavera, o que de alguma forma atrasou a produção,
face ao exposto, creio que pode tirar as suas conclusões...
um abraço
JPífano
Mestre, eu costumo usar mais ou menos a mesma técnica, mas umas quantas abelhas costumam ir sempre agarradas, aliás, de que seria da cresta sem uma bela ferradela ;)
Acho que já foi tudo dito sobre o teu blogue... que posso eu mais dizer? olha, que gostei muito e que fiquei a saber algumas coisas mais sobre as abelhas que até aqui desconhecia... tive um vizinho que tinha uma colméia e de cada vez que lhe ia tirar o mel, era uma chatice, porque as abelhas ficavam enfurecidas e quem pagava com as favas eram os meus filhos, coitados.
Desculpa se me alonguei... gostei muito do teu blogue... continua o bom trabalho que realizaste até agora.
Um abraço.
Tenho 4 colmeias desde 2008 (2 anos a tentar conhecer alguma coisa de abelhas) na região da Guarda (moro em Lisboa) e fiz a cresta em Agosto passado. Com algumas duvidas, vim reler este tópico do mestre "Monte do Mel". Então, é o seguinte: Aquando da desoperculação, antes da centrifugação, encontraram-se alguns quadros com pouca criação, mas muito polen à sua volta. Ao fazer a limpeza de toda a zona cortaram-se grandes pedaços de favo contendo polen e mel. Não sabendo o que fazer guardei-os num saco de plástico e congelei-os. Agora pergunto ao Mestre: Será que aqueles desperdicios poderão servir para alimentação em periodos de carencia, nomeadamente no inverno, ou na primavera como estimulante?
Obrigado Monte do Mel pelos ensinamentos que nos tem transmitido no seu optimo Blog.
Felicidades.
Jose
Caro José
Antes de mais parabéns pela iniciativa de se tornar apicultor "à distância", o que ainda é mais difícil.
Pelo que percebi a sua dúvida prende-se com a possível reutilização de pedaços de favo com mel e pólen na alimentação das abelhas.
O mel, depois de retirado do frigorífico e descongelar à temperatura ambiente é bom para fornecer às abelhas. O "pão de abelha" que se encontra nos mesmos favos é mais perecível após o descongelamento, mas tou em crer que não vá ser rejeitado.
Desfaça tudo em pedaços e coloque num alimentador interno (entre o tampo e a prancheta) e vá observando o comportamento delas.
O Mel deverá ser removido muito rápidamente, o pólen...pão de abelha) se começar a ter bolor é melhor eliminá-lo.
Mas creio que aproveitarão tudo.
Normalmente (sempre) que dou pólen às abelhas é sempre pólen seco (misturado no mel) ou pólen fresco, nunca experimentei dar-lhe pão de abelha, normalmente não resisto e como-o eu... vícios
Um abraço
JPifano
Caro Amigo:
Tenho relido os seus post por aqui. Sempre gostei muito de abelhas e, inclusivamente, cheguei a ter uma colmeia na varanda da minha casa!! Infelizmente desapareceram de um momento para o outro depois de notar que andavam por lá umas abelhas com um tamanho maior.
Agora que mudei de casa para uma numa zona rural e com um quintal grandito logo me apeteceu voltar a ter colmeias. Por sorte, veio ter à colmeia vazia um enxame nos finais de Março. Como a colmeia estava em mau estado comprei uma nova e mudei o exame para lá logo no dia seguinte. Durante 15 dias coloquei o alimentador com uma "xaropada"
Em Junho fui verificar o ninho e estava completamente cheio de criação e mel. Coloquei então uma alça. Na semana passada, depois e ver muitas abelhas à entrada coladas à parede externa, fui verificar e a alça estava completamente cheia de mel... Fiz hoje a cresta... 23Kg... penso que foi muito bom.
As minhas dúvidas, para a qual necessitava dos seus bons conselhos são: 1 - Que fazer da cera e restos de mel resultante da desoperculação? 2 - Como voltei a colocar os quadros, agora crestados, na alça para serem "secos", devem ficar lá para a próxima época ou, na primavera, devo substituí-los por quadros com cera nova?
Um abraço de reconhecimento:
José
Olá José Moreira,
As suas questões:
1- A cera da desoperculação deve ser reciclada, ou seja, fundida e filtrada para retirar impurezas. O bolo de cera daí resultante deve ser trocada por lâminas de cera moldada.
O mel daí resultante, suponho que se esteja a referir ao mel que escorreu durante a desoperculação e ao próprio mel que fica nas ceras dos opérculos, poderá/deverá ser filtrado e consumido...
2 - As alças, com os respectivos quadros só devem ir para cima dos ninhos para duas situações:
a) Para a produção de mel...
b) Para as abelhas limparem restos de mel (no pós-cresta)e depois serem armazenadas.
O meu conselho é que os retire poucos dias depois de os colocar a limpar, ou, caso estejam numa zona com flora de Verão, monitorizar a alça para ver se as abelhas estão a colectar néctar, e proceder tal como fez durante a Primavera.
É muito importante que as alças não fiquem sobre o ninho fora das épocas de produção, por uma série de razões:
1. Nunca devemos fazer tratamentos acaricidas (ou outros) quando as alças estão sobre o ninho (mesmo sem mel)
2. As alças sobre o ninho, durante o Inverno, podem levar a um maior consumo de reservas, na medida em que as abelhas se resguardam no ninho (por baixo)e o ar quente sobe...
por outro lado, o espaço a aquecer fica muito maior.
Poderá armazenar os quadros no frigorífico (se houver espaço) pois devem ser poucos (uma alça?) e reutilizar a cera já "puxada" na próxima Primavera, não havendo por isso qualquer necessidade de a substituir.
Espero ter sido suficientemente claro,
não sei se estou a "escrever" para algum familiar, pois devo ter mais de 10 primos chamados José Moreira.
um abraço
Joaquim Pifano
Olá boa tarde, normalmente leio todas as duvidas e comentários acerca de abelhas de mel.Sempre gostei da actividade de apicultor, embora fosse o meu pai a desenvolver esse trabalho.Agora,o meu pai, por motivos de saúde,deixou-me as colmeia,vou eu iniciar essa função!!Pergunto,descobri num local da quinta em Castelo Branco,mel, num pote que deve ser da cresta de 2009.Ainda esta proprio para ser consumido??Quem compra?? cerca de 200Kg. Obrigado por todos os esclarecimentos.
jmcenteio
Olá Zecenteio
Aconselhava-o a contactar a associação de apicultores de Castelo Branco, é quem melhor o pode aconselhar sobre o escoamento de mel nesse local.
Abraço
Joaquim Pifano
parabéns pelo blog tem coisas muito interessantes. gostava de me iniciar na apicultura mas como sou trabalhador rural tenho pouco tempo disponivel para me dedicar a 100% á apicultura além nunca ter lidado com este tipo de ocupaçao, mas já aprendi algumas coisas na net em videos blogs etc etc... é possivel ter 5 ou 6 colmeias e só ir verifica-las por exemplo 3, 4 vezes num mes? desde já agradeço a ajuda... abraço
Olá boa tarde,
Nem precisa de as ir ver tantas vezes, a estação de maior aperto é a Primavera e uma vez por semana é mais que suficiente.
A profissão de trabalhador rural é perfeitamente compatível com a apicultura, pode e deve arranjar essas e mais colmeias.
Bom Trabalho!
Joaquim Pifano
Olá boa tarde,
Durante o processo de cresta pode ou não retira-se quadros do ninho ?
Obrigado
Cumprimentos
José Francisco
Boa tarde
Gostava de saber se no processo pode ou não retirar se quadros do ninho
Obrigdao
Cumprimentos
Carlos
Caro José Francisco,
Por norma não se deve crestar o ninho, visto tais reservas serem necessárias à colónia.
No entanto há quem o faça e apenas nas seguintes situações:
- Quando esse ninho nunca tenha sido medicado com substâncias acaricidas ou com outro qualquer medicamento.
- Verificando-se também o ponto anterior e quando haja ainda floração suficiente para que as abelhas possam repor TODAS essas reservas em falta no ninho.
Pessoalmente fiz isso uma vez, em colónias que nunca tinham sido medicadas, apenas retirei quadros novos do ninho e com mel de rosmaninho (muito bem cotado) e fi-lo porque 2 semanas depois as levei para o girassol (mel menos cotado) onde puderam recuperar essas reservas no ninho.
abraço
Joaquim Pifano
Boa noite qual o modelo que usa
Olá
Utilizo sobretudo colmeias Lusitanas e algumas Reversíveis.
Cumprimentos,
Joaquim Pífano
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