04 junho, 2009

Leptus ariel, a nova doença ?


Esta semana, o amigo Carlos Correa enviou-me uma revista de apicultura do Brasil. É editada pela APACAME – Associação Paulista de Apicultores, Criadores de Abelhas Melificas Europeias. É de distribuição gratuita entre os associados: 7200 associados, quase metade dos apicultores portugueses registados..., chama-se “Mensagem Doce” e considerei-a EXCELENTE!
Têm um lema que achei muito curioso, e quem sabe não nos irá trazer alguma inspiração: “Não somos ricos, somos organizados

Uma das notícias a que é dado largo destaque, ironicamente, parece não fazer jus ao nome da revista, ou não se tratasse de mais uma doença (nova doença?) que afecta as abelhas. Ainda por cima se trata de mais um ácaro: Leptus sp. LATREILLE 1796:

“Ocorrência de Larvas de Leptus sp. LATREILLE 1796 (Acarina: ERYTHRAEIDAE) em operárias de abelhas africanizadas Apis mellifera LINNAEUS 1758 (Hymenoptera: APIDAE), no Brasil” da autoria de Érica Weinstein Teixeira.

O estudo foi feito no Estado de S. Paulo, município de S. José dos Campos. Os exemplares do dito ácaro encontravam-se agarrados ao corpo de obreiras de abelhas africanizadas que chegavam à tábua de voo das colmeias. As áreas de fixação preferidas pelas larvas do ácaro foram o tórax e a cabeça das abelhas campeiras.
Existem cerca de 90 espécies descritas do género Leptus (BAKER e SELDEN, 1997) e destas, apenas o Leptus ariel foi confirmada e descrita em Apis mellifera, na Guatemala (SOUTHCOTT, 1989).
A infestação foi constatada em dois apiários no referido município de S. José dos Campos – S. Paulo no final do Inverno de três anos consecutivos (2006, 2007 e 2008). Cerca de 3 a 5 larvas de ácaro, de cor vermelho – alaranjada, por obreira (em média), encontrando-se no entanto algumas com 20.
Como não se encontraram ácaros adultos nas larvas de abelha, os especialistas acreditam que a infestação ocorra fora d colmeia, no campo, provavelmente durante a colecta de néctar e pólen, ou mesmo no contacto com o solo húmido à procura de água.
O ciclo de vida do ácaro não deverá ocorrer todo no corpo da abelha, uma vez que após a fase larvar a abelha é trocada por um lugar abrigado, onde se dá a passagem a protoninfa. Nesse estudo não se encontraram indivíduos adultos nem sequer na fase de ninfa, provavelmente nem se trata de um parasita obrigatório, uma vez que descrevem o adulto como tendo vida livre.

Nos apiários estudados morreram cerca de 20% das abelhas (não havendo referências a baixas no número de colónias). De qualquer forma, tal mortalidade não pode ser correlacionada com segurança ao Leptus ariel, uma vez que não foram encontrados ácaros no corpo das abelhas mortas frente à colmeia.
Também não foram avaliadas outras moléstias/doenças que poderiam ter causado tal mortandade, mas sabe-se que os sucos digestivos produzidos e injectados pela larva do ácaro na abelha produzem alterações fisiológicas consideráveis.

Vamos aguardar por mais novidades, mas de qualquer forma creio que ainda não será este ácaro a desalojar a Varroa dos nossos pesadelos...

4 comentários:

Mário disse...

Amigo Pífano, obrigado uma vez mais por outra grande lição de apicultura, esta sala de aulas tem as paredes forradas de sabedoria e dedicação, a ardósia do quadro transpira giz de cultura, onde as cadeiras e as secretárias são colmeias e cortiços, e onde cada visitante e leitor são alunos sedentos de algo que não se consegue encontrar em mais lado nenhum.

Para mal de todos os males temos então mais uma praga a juntar aquela tão conhecida panóplia, será mais uma coisa que teremos de nos adaptar e tentar contornar, só espero que não apareça nenhum tipo metade inteligente, que venha lançar no mercado mais um químico, apregoando-o como milagroso, e tente calar outras vozes e soluções que não essas.

Grande abraço
Ferradela

Alien disse...

Mario,
de facto estão sempre a surgir novas doenças, e respectivas curas...
não sei se é avanço da ciência ou estratégia da economia... às vezes até confundimos as causas com as consequências...
Abraço
JPifano

Mário disse...

Mestre Pífano, só uma curiosidade, é possível saber o tamanho da abelha em questão?
Pelas imagens não consigo identificar bem.

abraço
ferradela

Alien disse...

Creio que se trata da abelha africanizada, comum no Brasil, Alguns países da América do Sul e Central e penso que a "invadir" os EUA, deve ter aproximadamente as dimensões da nossa.
JPifano