17 novembro, 2009

Apicultura na Galiza "Costa da Morte": Litoral Norte de Espanha

A apicultura desta região, face à máxima de que “as abelhas são as guardiãs do ambiente” é um autêntico paradoxo.
Porquê? É simples, apesar de ser uma das zonas mais verdes, florestadas e com muita vegetação espontânea e cultivada que já vi: não tem abelhas! Pelo menos, eu não as vi, ou melhor, vi muito poucas para o que estava à espera…
Finda a visita ao Gerês, continuamos o nosso périplo por aí acima, o objectivo era chegar ao cabo Finisterra, passando por Vigo, Pontevedra e Santiago de Compostela.

Logo à saída desta cidade trocamos a autovia pela estrada nacional e depois esta por estradas mais secundárias. O objectivo era cruzarmo-nos com pequenas aldeias rurais e conhecer um pouco mais da vida no campo daquelas paragens – em particular a apicultura e os apicultores.
Ia arranjando um torcicolo por tanto olhar à direita e à esquerda na esperança de ver as ditas caixinhas pintadas, com insectos a entrar e a sair. Perdi a conta aos povoados com meia dúzia de casas, entre prados e florestas em busca de “colmeneros”, mas nada, “colmeneros aquí? no, no los hay”.
Quando muito conheciam um ou dois, com duas ou três colmeias e viviam lá mais para a frente, num local que eu nunca conseguia encontrar.
Em Santiago de Compostela ainda acertei na casa de um, mas segundo a família tinha-se ausentado por causa da caça…

Foi já em desespero e a caminho de Santa Comba que… maravilha das maravilhas, encontrei quatro ou cinco colmeias a uns 50 metros da estrada. Nem pensei duas vezes, encostei o carro, atravessei um pequeno pinhal e vá de tirar fotografias…
Estavam em muito bom estado as ditas colmeias, bem orientadas, sobre suportes (blocos de cimento) e algumas com placas de fibrocimento a reforçar o tampo. Não lhe consegui adivinhar o modelo, pareciam um híbrido de Reversível com Langstrooth. Enfim, eram colmeias, com pouca população mas eram colmeias.

O que mais me chamou a atenção foi um pormenor que podem observar na imagem acima: um mosaico, à laia de tapete de boas vindas frente a cada colmeia. Não sei qual a sua serventia, talvez para evitar o crescimento de ervas junto à entrada das colmeias, o que é um facto é que todas tinham aquele “lajeado” frente à porta.

Mais satisfeito, abandonei o apiário em direcção ao povoado. Se havia “colmenas” decerto haveria um “colmenero”… e eu queria falar com ele, dois dedos de conversa, daqueles que os apicultores prolongam durante horas…
Após duas tentativas frustradas lá encontrei a casa do homem, mas nem cheguei a bater à porta, logo uma vizinha me advertiu que o mesmo se ausentara para ir ao médico, problemas com uma perna, enfim… contratempos…
Ainda não tinha chegado à estrada nacional quando num relance vislumbrei novo apiário com duas ou três colmeias instaladas num quintal. Identifiquei as caixas pelo característico telhado ondulado de fibrocimento. Desta vez havia de “apanhar” as abelhas e o apicultor, a coisa começava a aquecer.
Não calculam a curiosidade que tinha em conhecer a apicultura daquelas paragens, pela dificuldade em desencantar apicultores a busca tornou-se quase uma obsessão.
Nem cheguei a sair do carro, já preparava a máquina fotográfica quando de uma das “colmeias” saiu uma gigantesca abelha a ladrar enfurecida, felizmente estava presa a uma corrente…

Foi já perto do cabo Finisterra que mesmo junto à estrada encontrei o próximo apiário, ainda por cima o apicultor estava em casa, um caso de sucesso finalmente.

Pedi autorização para tirar umas fotografias e o Sr. Ernesto, extremamente simpático, e falador… acompanhou-me ao apiário. Eram poucas colmeias, dez ou doze, ainda por cima colocados num terreno tão alagadiço que mais parecia uma linha de água, mas as abelhas lá andavam labutando felizes.

Usava o mesmo modelo de colmeias do apiário anterior, compradas a um fabricante em Santiago de Compostela, desta vez deu para perceber que se não eram Langstrooth, eram algo muito parecido.
Há costumeira pergunta acerca da floração das redondezas, do tipo de mel e das doenças que mais afectavam a região, falou-me no Eucalipto, nas Silvas e na “Carrasca”, que percebi depois tratar-se de uma Urze semelhante à que tinha visto no Gerês.

Quanto às doenças: a inevitável Varroa e uns quantos casos de Loque Americana, felizmente mais raros.
Questionei-o quanto à localização do apiário num lugar tão alagadiço, se não tinha problemas com a micose. Respondeu-me que não e resolvera o problema da humidade colocando as colmeias em cima de autênticas torres feitas de blocos, como podem ver na próxima imagem:

Convidou-me a entrar na melaria dele onde a conversa se prolongou por mais uns instantes, provamos o mel, muito escuro e de sabor agradável. Era nítida a presença do néctar de Urze. Acabei por lhe comprar um frasco pela módica quantia de 5,00€.

Com o aumentar da confiança ainda me mostrou um líquido e umas ripas “mágicas” com que eliminava a Varroa, o “Klartan” é de facto uma mesinha universal…
Falou-me de uma série de apicultores da região que não constituindo uma verdadeira associação, se organizavam quando era para vender o mel por junto, mas ele não tinha dimensão para essas coisas, vendia tudo à porta.

Continuamos a viagem e entre Finisterra e La Coruña, nada de abelhas. Já no regresso entre La Coruña e Ourense, via Lugo, nem um cortiço encontramos para alegrar a vista.
Devo ter feito o dobro dos quilómetros por causa do ziguezaguear de um lado para o outro da estrada nacional, mas nem colmeias nem “colmeneros” quanto mais “abejas”...
Apesar disso acredito que as houvesse, pois a flora parecia ser suficientemente abundante e apropriada para tal prática, fosse pela quantidade de Castanheiros como da grande extensão de prados de trevo em flor:


Se isto se tivesse passado há uns anos atrás, decerto me saía o comentário:
Como é que posso encontrar colmeias em Espanha se eles as levam todas para Portugal?
Mas fiquemos por aqui…

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite,
gostava desde já dar os parabens pelo bom trabalho realizado a favor da apicultura portuguesa.
Quanto a apicultura na galiza tem o maior apicultor da peninsula iberica david curral «miel da anta», segundo ele acha que são mais de 8 mil colmeias,o segundo produtor com mais de 6 mil «miel orteda».
Demonstra muito rapidamente o peso da apicultura do pais vizinho, para conhecer melhor são realizadas em março um forum cultural e tem mais pessoas que o forum em portugal recentemente realizado.
obrigado pelo blog

Alien disse...

Olá
Fico muito satisfeito por gostar do blog.
De facto, alguns apicultores dessa região mensionaram alguém com um grande efectivo, que até tinha uns apiários na zona, mas eu não consegui descobrir quem era.
Até creio que eles se referiam a alguém das Astúrias ou por esses lados...
Muito obrigado pela informação.
Joaquim Pifano

Anónimo disse...

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Thanks in advance and good luck! :)

Anónimo disse...

Ola Pifano: De facto o David Curral é um dos maiores apicultores com cerca de 7000 colmeias (eu n o conheço pessoalmente) mas já me disseram, tb existe a Associação de Pontevedra que abrange a maior parte da Galiza, penso k eles são os "gestores" da IGP Galiza para o mel...
No entanto, são poucos (ou nenhuns) galegos que colocam colmeias em Portugal
Felizmente, existem boas relações com a Galiza e o Minho, sendo as várias partes regularmente convidadas para fóruns nestas regiões...
Miguel Maia