11 março, 2013

Caixa para Desdobramentos e Introdução de Rainhas

É sempre com muita expectativa que percorremos a curta distância entre Lagos e o Burgau no Algarve. Uma estrada estreitinha, colinas suaves de ambos os lados salpicadas aqui e ali com casas de férias, nada que afecte a estética, até convidam ao retiro e à tranquilidade que o lugar inspira.
O que é que o Vicente “Algarvio” terá para nós desta vez?

Tirando a amizade e a simpatia com que sempre nos recebe, o resto é uma surpresa, um invento apícola já sabíamos, restava adivinhar do que se tratava.

Enquanto trocávamos dois dedos de conversa, as “coisas” da nossa apicultura, qual prelúdio para o que se ia seguir, chamou-me a atenção uma estranha caixa de metal, inox, com rede nas laterais e um funil rectangular por cima.

Tratava-se de uma caixa que ele aperfeiçoou para congregar as abelhas de uma colónia, e apaziguá-las de modo a que possam receber uma rainha sem a atacarem. Trata-se por isso de uma ferramenta de grande utilidade na multiplicação de colónias e ou na introdução de rainhas.

O material necessário para esta operação, além da referida caixa de metal, é um recipiente de plástico com 20 a 25 litros de água onde caiba a caixa, e um núcleo adaptado para o efeito.

Era suposto fazermos um “desdobramento” e introduzirmos uma rainha fecundada da produção do Vicente, mas o vento frio que se fazia sentir levou-nos a optar apenas pela simulação e um dia mais tarde regressarmos para experimentar de facto estes utensílios.

Abeiramo-nos do pequeno apiário de Apis mellífera ligústica que tem no jardim e dispusemos os utensílios em torno da colmeia a desdobrar. Não foi necessário utilizar os equipamentos de protecção dada a docilidade destas abelhas.

Começamos por colocar cerca de 20 – 25 litros de água fria no recipiente de plástico adquirido para o efeito. Convém utilizar águas da chuva ou de um poço, evitando a da rede com tratamentos químicos.

Em seguida seleccionamos a colónia a desdobrar, retiramos um quadro com muitas abelhas jovens e sacudimo-las para dentro do funil da caixa, acumulando-se as abelhas em baixo no reservatório de rede. É necessário muito cuidado para que a rainha não seja transferida neste processo.
A escolha de abelhas jovens (amas) deve-se à sua baixa agressividade natural, facilitando e maximizando o processo de aceitação da nova rainha.

Após colectarmos a quantidade desejada de abelhas, retira-se o funil e fecha-se a tampa superior da caixa, para que as abelhas não saiam.

A caixa metálica é então introduzida no reservatório com água, para que o “monte” de abelhas seja totalmente “lavado”, operação que dura apenas alguns segundos, não se vão afogar as abelhas.

Segundo o Vicente Furtado, o banho ou lavagem das abelhas não só irá retirar-lhe os cheiros da colónia original como as confundirá, tornando-as mais dóceis para receber a nova rainha sem a atacar.

Retirada a caixa metálica de dentro de água, abre-se a porta lateral, e a massa de abelhas é despejada para dentro do núcleo modificado.

Uma vez despejadas as abelhas para o núcleo, colocam-se de imediato os quadros com cera laminada ou preferencialmente cera puxada, alveolada, e logo de seguida uma rainha fecundada.

Este núcleo, adaptado para o efeito, tem um espaço muito grande entre o estrado (em rede para que a água escorra) e a parte de baixo dos quadros. Tal se faz para evitar que ao colocar os quadros se esmaguem as abelhas amontoadas e molhadas.
Logo que sequem irão calmamente subir aos quadros e familiarizarem-se com a rainha.

Este método já foi repetido algumas vezes e com êxito, não só com a abelha ligústica mas também com a abelha negra europeia, no entanto ainda necessita de novas repetições para garantir a sua total eficácia na familiarização rápida das abelhas.

Joaquim Pífano
Luísa Garcia
Luís Lourenço

9 comentários:

Abelha Preguiçosa disse...

Este tipo de procedimento, para além das finalidades descritas aqui, poderia também servir para eliminar as eventuais varroas que possam existir, aproveitando o facto de o enxame estar nú. Se bem que não estou a ver bem como...
Apesar de muitas vezes não se ver nenhum ácaro, eles podem estar lá.

Alien disse...

Ricardo,

A ideia é excelente,
adicionando na água qualquer produto que elimine a varroa. Pelo menos os ácaros dos insectos adultos seriam eliminados, ficando apenas os varroas da criação.
Com banhos periódicos controlar-se-ia a varroose.

Atenção aos produtos que alterem a tensão superficial da água (como os detergentes), isso faria com que as abelhas se afogassem rapidamente.

Seria prático para explorações de pequena a média dimensão, pior para as grandes, mas...

Paulo disse...

Para eliminar a varroa, molhar não sei, mas polvilhar açucar em pó com as abelhas numa caixa de rede desse tipo funciona. Mas como o Alien disse, apenas seria prático para pequenas explorações.

Apisarte disse...

Com um pouco de sabão na água, a varroa solta-se das abelhas. Foi o método inicial usado pelos russos, na chegada da varroa ao seu país. Mandar as abelhas para a piscina também não estou muito de acordo, quem faz os pacotes de abelhas usa o spray aromatizado e é quanto basta, embora os nucleos estão sempre em quarentena primeiro e depois é que adicionam as rainhas,para ver se têm varroa. Eu melhorava o processo com excluidora e batimento para a subida das abelhas jovens, para uma caixa superior. Por este processo os zangãos passam para os nucleos. O funil também mais largo para trabalhar á vontade. Mas claro isto adapta-se ao maneio de cada um.
CP

Anónimo disse...

Olá .. bem depois do fugás encontro na rua tive curiosidade e fui ver essa novidade! bem de novidade tem pouco pelo menos há 2 anos mostrei-lhe ou dei-lhe uns endereços no youtube sobre desmultilicação de enxames ora acontece q usam igual sistema com uma variante no final usam co2 para q elas percam a memoria do enxame original e qd acordam a rainha já está dentro do nucleo, pois bem eu já tinha achado o video atrasado era com dois ou trê anos presume q tenha 5 a 7 e só rever lembra-se foi na altura do tunel de acasalamento .

Alien disse...

Viva :)

Eu recordo-me da nossa conversa sobre o tunel de vento, mas nunca mais pesquisei nada sobre o assunto. De qq forma não está esquecido.

Abraços

Anónimo disse...

Voltei só para lhe deixar um endereço é algarvio e parece ser bem interessante embora eu já tivesse visto outro com melhor visão de como funciona:http://www.youtube.com/watch?v=xlHpg1uij24

Paulo Pereira disse...

OLá
Vou fazer algumas perguntas
gostava de saber se com este método as abelhas perdem a feroarmona, e se tem que ser abelhas todas da mesma colmeia, ou se podem ser de diversas.
Paulo Pereira

Alien disse...

Olá Paulo,

pessoalmente nunca testei o método, mas segundo o Sr. Vicente Furtado,
em quem tenho toda a confiança, as abelhas perdem o aroma da colónia
original e aceitam a rainha com toda a facilidade.
Ora se perdem o cheiro da colónia original, muito provavelmente
poderão ser utilizadas abelhas de colónias diferentes, sobretudo se se
tratarem de abelhas jovens.

Abraço
Joaquim Pifano