Foi uma das descobertas mais curiosas que fiz enquanto apicultor.
Ocorreu durante a visita a um primo, já idoso e sem qualquer ligação à apicultura. Achei estranho ver uma arca em madeira e de grandes dimensões coberta por telhas de barro, como se de uma casa se tratasse.
À minha pergunta respondeu que se tratava de “uma arca do mel”que alguém lhe tinha deixado por herança. As telhas serviam apenas para a proteger da intempérie, até porque actualmente está muito melhor acondicionada sob um telhado de verdade.
Contou-me ele, que há muitos anos, “a arca do mel”, era usada para transportar os favos de mel durante a cresta. Devido ao seu tamanho, era colocada em cima de uma carroça e puxada por um burro ou uma mula. Na madrugada do dia da cresta, no “mítico minguante de Agosto”, a carroça com a arca era estacionada junto ao apiário, ao muro apiário talvez, e o burro era retirado do local.
Esta passagem: “e o burro era retirado do local”, foi omitida pelo meu primo, e eu na altura nem perguntei os pormenores, tão embevecido que estava com o relato, mas prefiro pensar que era assim, não fosse o animal estar para ali umas horas a levar ferroadas. Quase decerto que seria assim.
Há medida que o mel era crestado aos cortiços, os favos eram colocados dentro da enorme arca, sobre um estrado feito de canas e que assentava sobre um friso de metal a um terço da altura. O mel ia assim escorrendo, separando-se da cera por gravidade e pingando para o fundo da arca, fundo esse revestido com uma folha de metal até à altura do friso.
Interior da Arca do mel em corte transversal.
Colocado o último pedaço de favo, tapados e “barreados” os cortiços, levava-se a arca para o monte onde se dava continuidade aos trabalhos.
Nesta fase, os favos eram fragmentados em pedaços muito pequenos e esmagados para que libertassem todo o mel. Havia também quem os colocasse numa cesta de verga com um peso por cima para acelerar o processo.
A arca tinha uma torneira por onde retiravam o mel para dentro de grandes recipientes de barro onde era embalado.
Nesse tempo a embalagem final era da responsabilidade do cliente, levava-a vazia e regressava com o precioso néctar, e com alguma sorte ainda conseguia comprar um pouco de água mel.
Não sei se as “arcas de mel” eram utensílios frequentes no Alentejo ou noutra região do país, só vi esta e nunca soube de qualquer outra referência a objectos semelhantes. Há duas semanas fui visitá-la, lá estava ela, velha, mas imponente no seu tamanho e nas “doces” recordações que decerto ainda possui.
Se alguém souber da existência de outras arcas concebidas para tal função, era interessante informarem o “montedomel” e enviarem textos/fotos etc... e todos ficávamos a conhecer.
18 novembro, 2008
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3 comentários:
epá você tem cá uma pachorra para ilustrar estas imagens ,mas continue que nós bem precisamos , estamos sempre a aprender . até outro dia
Estou a estudar a possibilidade de começar com esta arte da apicultura. Este blog é muito elucidativo. Parabéns e obrigado
É uma actividade muito aliciante,"doce" e "picante"
coragem e boa sorte...
Monte do Mel
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