03 dezembro, 2008

O Sexo dos Anjos


Nada caracteriza mais um apicultor que a vontade de falar ou discutir qualquer assunto relacionado com a actividade. Às vezes a coisa mais disparatada que se possa imaginar é motivo para horas de conversa.
Já me justificaram isso como resultado das horas de solidão no meio do mato, entre covas e cabeços, ainda por cima separados do mundo pela rede omnipresente da máscara. Um amigo meu dizia-me uma vez que depois de um dia nas abelhas via tudo aos quadradinhos...
Certo é que uma vez tive uma discussão dessas, aliás tive dúzias delas, mas nesta não chegamos a consenso. O diferendo prendia-se com o transporte de colmeias povoadas, onde eu era apologista dos quadros paralelos ao deslocamento do veículo e o outro apicultor defendia a perpendicularidade dos mesmos.
Quem não tiver nada a ver com a apicultura e ler o parágrafo anterior vai passar a olhar para um frasco de mel como quem olha para uma fórmula matemática... mas acredite que isto são só aparências, o mel continua a ser doce como era e até engorda...
O imbróglio da dita conversa encalhava na incerteza dos dois contendores, sobre se um veículo em andamento oscilava mais para os lados ou para a frente e para trás. No primeiro caso a verdade era dele, no segundo, contando com as travagens e acelerações bruscas a razão era minha.
Até que alguém invente um “oscilômetro” que registe os solavancos do caminho, resolvemos deixar a conversa em espera, até lá conduzam com cuidado para não sacrificar as abelhas.

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