16 dezembro, 2008

Um Conto de Natal...

As Abelhas que Semeiam Arvores
O Natal é uma quadra que nos remete para o mais profundo e belo que há em nós. Será sempre um período de reflexão onde conseguimos vasculhar o passado e encontrar motivos de orgulho que nos iluminam o futuro. Creio sinceramente que todas as pessoas em todos os recantos do mundo fazem, fizeram ou irão fazer uma obra, que de alguma forma afectará o melhor possível as pessoas à sua volta.
Ontem, por exemplo, um jornalista do Iraque atirou com um par de sapatos ao George W. e só agora percebi que o W. é a abreviatura de Walker, enfim... mas o dito jornalista passou de simples anónimo a herói planetário em dois arremessos. Nem sequer acertou no alvo, imaginem se acertasse. Mas estamos no Natal e vou acabar com as ironiazinhas... desafio a quem encontrar mais uma que seja pelo texto abaixo... vale uma embalagem de mel. Mas acreditem que no desenho do início me senti tentado a substituir a abelha “semeada” por um par de sapatos.
Continuando...
Para que a vida não tenha sido em vão, todos temos como objectivo plantar árvores, fazer filhos e escrever livros, ou pelo menos cumprir uma parte disso. Outros há, que sem realizar nenhum daqueles feitos, conseguem uma vida plena e realizada, apenas pelo facto das suas acções, de uma forma desinteressada e quantas vezes sem reconhecimento, melhorarem ou tornarem possível as vidas alheias.
Até porque há muitas formas de plantar arvores, escrever livros ou fazer filhos.

Recordo-me de uma história, verídica, passada nos Alpes no principio do século XX, onde um pastor solitário munido de um varão com um bico e um saco de bolotas, tinha como passatempo fazer buracos no solo onde enterrava as ditas sementes. Muitas, cerca de 100.000 todos os anos, dessas, apenas 20.000 germinavam, perder-se-iam ainda metade, mas 10.000 Carvalhos nascidos anualmente naquelas encostas áridas eram muitas arvores. Mais serão ainda se multiplicarmos esse número por quarenta anos de actividade e solidão do pastor Elzéard Bouffier, que de uma forma desinteressada e sem subsídios plantou centenas de milhares de Carvalhos, Faias e Bétulas. Mudou a face e o clima de uma região, as fontes e regatos voltaram a correr, a vida tornou-se possível.
Mais tarde, a esse mesmo local foi reconhecida importância nacional, tendo ganho o estatuto de área protegida. Sabe-se que mais tarde o pastor trocou as ovelhas por cerca de uma centena de colmeias, não fossem as primeiras destruir as arvores jovens.
Pergunto-me, quantos Elzéard Bouffier haverá no mundo ? Posso adiantar que segundo os últimos censos, em Portugal existirão mais de 15.000, 1.800 dos quais fazendo-o profissionalmente. Desculpam-se que produzem mel, ou pólen ou própolis, perante terceiros, mas na realidade o que eles fazem é plantar arvores, arbustos e herbáceas. Propagam e disseminam milhares e milhões de plantas, por hectares e hectares de terreno, umas para madeira, outras para frutos, outras apenas para sombra e ornamentação, mas todas para uma renovação contínua da atmosfera e do ar que respiramos. Removendo constantemente milhões de toneladas de dióxido de carbono, entre outros gases tóxicos e substituindo-os por oxigénio.
Esta acção passa-se a uma escala espaciotemporal para a qual não temos sensibilidade, não por razões de negligência ou desinteresse, apenas porque é um processo imperceptível no contexto humano, limitamo-nos a respirar sem com isso fazer esforços voluntários e sem pensarmos sequer no assunto.
Mas para haver ar respirável têm de existir plantas, vegetais, para haver plantas têm de haver sementes fecundadas, viáveis, estas por sua vez devem a existência a insectos incansáveis que visitam constantemente as flores provocando a polinização – as abelhas.
Infelizmente, e desde a disseminação do ácaro Varroa destructor, as abelhas para subsistirem precisam da ajuda dos apicultores. É assim um pouco por todo o mundo, abelhas e apicultores são os guardiões do ambiente, de uma forma desinteressada e muitas vezes incompreendida, levantam-se de madrugada para limpar e purificar o ar que todos respiramos.
A apicultura é uma actividade económica, quem a pratica visa a produção de mel, cera, pólen, própolis, geleia real e toda uma série de produtos que acaba por vender para daí extrair algum lucro.
Para os apicultores, o mel, o produto principal, é sempre vendido muito barato, no entanto o consumidor acha-o sempre muito caro, ironicamente o serviço ambiental promovido pelas abelhas, de longe o mais importante... é gratuito.
Poucos governos reconhecem e gratificam este serviço público, como acontece na Suécia. Um país onde o Ministério da Agricultura incentiva as pequenas explorações familiares, de modo a que todos tenham algumas colmeias no jardim, cobrindo vastas áreas do território. O mesmo não se pode exigir aos grandes produtores que para rentabilizarem as explorações apenas fazem os apiários em zonas de grande floração, polinizando apenas esses locais.
O objectivo desta mensagem é provocar alguma reflexão sobre a actividade apícola, sobre a forma como todos os apicultores sempre que capturam um enxame, fazem desdobramentos, criam rainhas ou simplesmente tratam das colónias, estão no fundo a fazer muito mais que isso, estão a manter este planeta habitável, estão a plantar árvores...
Bem hajam e Feliz Natal...

Este texto foi publicado na revista “O Apicultor” e outros jornais há uns anos atrás, reproduzi-o aqui com algumas alterações.

1 comentário:

Unknown disse...

Que história bonita esta, meu amigo!
Depois isto de dizer que "as abelhas e os apicutores são os guardiões do ambiente", para além de poesia - é uma bela frase para um slogan de sensibilização para a defesa da apicultura em geral e do trabalho dos apicultores!
Com que paixão vive estas suas actividades - a escrita criativa e a apiculura!
Parabéns!Fico à espera do conto sobre a "Caza Branca"...
Bjo.
CC