20 abril, 2009

Quando é o Pico do “Rosmaninho” ?

Boa pergunta. As perguntas são sempre boas, as respostas é que nem sempre ajudam muito...

Esta Primavera, à semelhança das últimas, foi “esquisita”. Um mês de Janeiro anormalmente chuvoso, o que dava bons augúrios para a campanha, segue-se um Fevereiro seco e frio, um Março muito quente e ventoso, e um Abril igual ao Março, com chuvadas na semana passada.

No final de Março e no princípio de Abril, datas em que o Rosmaninho já estava a abrir, a falta de água no solo associada aos ventos fortes e constantes, anularam completamente esta floração.
Curiosamente, gabava-me eu há poucos dias que há muitos anos não tinha criação nas alças, creio que a propósito do controlo de enxameação, e desde que uso quase que exclusivamente as colmeias Lusitanas. Esta Primavera já tenho criação em quase duas dezenas de alças...
Os alvéolos “sujos” de mel funcionaram como uma “tentação” para as obreiras que os limparam completamente. Como não havia qualquer entrada de néctar a rainha aproveitou para fazer o que melhor sabe.
O pior é maldita mania das abelhas em colocarem o pólen junto à criação. Situação que me poderá comprometer umas boas dúzias de quadros de alça para a próxima época. Caso esse pólen armazenado (pão de abelha) não venha a ser mobilizado durante o ano, vai criar problemas no armazenamento. As medidas que aconselhei para a conservação das ceras das alças (CONSERVAÇÃO DAS CERAS E ALÇAS – 10/11/2008), visa sobretudo combater a traça, pouco ou nenhuma protecção confere contra os bolores que afectam o pólen. Quando muito pode-se tentar evitar a humidade, mas no Inverno é muito difícil.

O mistério das rainhas, após os desdobramentos...

Este fim de semana, dado o “bom astral apícola” que se adivinhava, fui procurar as rainhas dos 25 desdobramentos que fiz no início de Março.
O período que medeia entre os desdobramentos (separação física dos quadros e abelhas) e a visualização dos primeiros ovos/criação nas novas colónias, atravessa uma série de fases críticas que podem comprometer tal trabalho:

 As abelhas não fizeram alvéolos reais/rainhas.
 O frio/chuva/falta de nutrientes poderá ter comprometido as novas colónias (muito frágeis).
 A nova rainha nasceu mas era biologicamente inviável ou muito fraca, foi obtida de uma larva demasiado velha ou houve falta de nutrientes.
 A nova rainha nasceu saudável e biologicamente viável, mas não fez o voo nupcial (não foi fecundada) por causa do mau tempo.
 A rainha fez o voo nupcial mas foi comida “literalmente” por um Abelharuco ou outra ave.
 A rainha regressou do voo nupcial mas por falta de referências/deriva entrou na colmeia errada e foi morta pela respectiva rainha. Muitas vezes até morrem as duas, duplicando-se o problema...
 ...

Quase sempre fazemos as continhas todas a partir do dia do desdobramento:

Larvas com dois dias (mais velhas não servem), faltam onze dias para nascer a rainha,
Mais uma semana para amadurecer sexualmente e fazer o voo nupcial,
Mais outra semana para iniciar a postura, vá lá... mais duas para não haver falhas...

11 + 7 + 14 = 32 dias

Por vezes já quase que passaram dois meses e nem sinais da rainha, começa o desespero: qualquer coisa correu mal.
Vamos lá com mais calma, de facto pode ter corrido mal alguma das etapas enumeradas lá atrás. Mas regra geral não corre nada mal, e se não encontramos postura foi porque a rainha ainda não a iniciou, e se não encontramos a rainha devemo-nos lembrar que:
- As rainhas virgens, tal como as recem fecundadas são muito pequenas, confundindo-se mais facilmente com as obreiras. Por outro lado, são muito ariscas e nervosas, não param muito tempo no mesmo sítio e deslocam-se a grande velocidade. Contrastam bastante com as rainhas já maduras cuja calma e “nobreza” de comportamento as distingue.

Mas há indícios a observar que nos dão informações muito seguras acerca da presença da rainha e do seu estado de desenvolvimento:

A presença de alvéolos reais abertos e outros destruídos garantem-nos que a colónia “fez” novas rainhas:

A existência de uma zona central nos quadros, onde os alvéolos se encontrem vazios e com um aspecto muito polido e até brilhante, indicam-nos que a postura se irá iniciar muito em breve. As obreiras, antes da postura da rainha, limpam com esmero os respectivos alvéolos e “envernizam-nos” com uma película de própolis, o que lhes confere o aspecto brilhante.
Estes alvéolos, ou melhor a cera, têm quase sempre uma cor escura, uma vez que se tratam dos quadros da colónia original (velha). A área limpa e propolizada para a postura tem quase sempre 10cm x 10cm a 15cm x 15cm, e ocorre em dois, três ou quatro quadros contíguos. Também se vêm alguns alvéolos com pólen (pão de abelha) dispersos no meio da referida área:

Esta imagem é um dos indícios mais seguros de que o desdobramento correu bem, e a rainha não só nasceu como já está fecundada e iniciará a postura muito brevemente.
Os pontos brancos (redondos) nos alvéolos da imagem não são ovos, pretendem apenas simbolizar o brilho provocado pelo facto da cera estar propolizada.

Outras vezes, para nosso desespero, surgem-nos imagens como a seguinte:

Alvéolos com dois e três ovos juntos: o equivalente aos ovos com duas gemas, trata-se de uma “super rainha!!! Claro que estou a brincar!!! Tal imagem nunca é muito bom sinal e normalmente informa-nos de três situações:

 A rainha é demasiado velha.
 A postura deve-se a uma obreira poedeira.
 A rainha (muito nova) iniciou agora a postura.

Como se reporta a uma colónia nova, resultante de desdobramentos, trata-se obviamente da terceira opção, a postura normaliza ao fim de um ou dois dias com o número normal de ovos por alvéolo.

E o Pico do Rosmaninho ???

Pois...
A Primavera não está para grandes previsões, mas... se as condições meteorológicas estabilizarem com temperaturas amenas e sem vento (nem chuva), é muito natural que durante a próxima semana a disponibilidade de néctar de Rosmaninho atinja o máximo.
Este fenómeno normalmente surge após uns dias de calor depois das chuvas, o que normalmente acontece no fim de Abril, circunstâncias que parecem verifica-se apesar de algum vento residual. Se quiserem o meu concelho, comecem já esta semana com visitas mais regulares ao apiário, logo que as alças tenham os quadros bem cobertos de abelhas coloquem-lhe outra alça. Desta forma é garantido que não se perde uma pitada de mel.

Fica mais uma vez a proposta de informarem o MONTEDOMEL da(s) data(s) em que ocorreu o máximo de disponibilidade de néctar (Pico do Rosmaninho) em cada região, o que nos ajudará a todos a tomar melhores decisões na próxima época...

1 comentário:

Hugo Martins disse...

Boa noite!

Eu acho que aqui pela Ponte de Sor o pico o rosmaninho já se iniciou. Pelo que vi hoje nas minhas colmeias fizeram mais em 2 dias do que nas últimas 2 semanas!

Abraços
Hugo Martins