Um fogão económico para fundir cera
Deve ser um “invento” muito antigo, no entanto só o vi uma vez a funcionar...
Entrei numa pequena oficina, onde o meu pai guardava as ferramentas e fazia a “bricolagem” dele, quando me deparei com um estranho fogão. Não passava de uma lata reciclada de 20 ou 30 litros de capacidade. A lata estava cheia de serradura incandescente, libertando um calor agradável naquela manhã de Inverno.
A lata teria uns 60 cm de alto por 30 ou 35cm de largo. Muito próximo da base tinha outro orifício com cerca de dez centímetros de diâmetro.
Segundo me explicou o meu pai, o fogão funcionava da seguinte maneira:
1º Começava-se por colocar serradura na lata até à altura do buraco lateral, (10 cm).
2º Nesse buraco enfiava-se um pau arredondado até ao centro da lata, apoiado sobre a primeira camada de serradura. O pau tinha uns 25 cm de comprido por 8 ou 9 cm de diâmetro.
3º Sobre a extremidade desse pau, no interior da lata, segurava-se na vertical um segundo pau, mais comprido, com cerca de meio metro.
4º Montada a estrutura, enchia-se o resto da lata com serradura. À medida que se iam adicionando novas camadas, estas eram comprimidas com a ajuda de um maço.
5º Com a lata cheia de serradura apertada, retiravam-se os dois paus com muito cuidado, de modo a que ficassem dois “túneis”: o vertical seria a chaminé e o horizontal o respirador.
Estava montado o “fogão”, restava agora incendiá-lo, o que se conseguia muito facilmente enfiando um papel a arder na base da chaminé.
Já não me recordo de alguns pormenores, mas acho que o referido fogão ficava quase um dia inteiro a arder só com a lata cheia de serradura. Não atingia grandes temperaturas, mas decerto que seria bem útil nestes dias de Primavera “Invernosa”, na oficina onde faço as reparações do meu material apícola.
Por outro lado, alegra-me pensar que não é necessário abater uma árvore para conseguir o combustível, na medida em que trabalha com materiais reciclados.
Uma forma curiosa de aproveitar esta fonte de calor “reciclado”, pode ser na própria “reciclagem” da cera das abelhas.
Basta para isso colocar sobre o fogão uma lata de menor volume, com água, e seguir o método que os apicultores mais antigos por aqui praticavam:
A cera retirada dos quadros velhos, os opérculos e as bolas de cera resultantes da prensagem dos favos de cortiço, eram metidos dentro de um saco de serapilheira. O saco era por sua vez colocado dentro de uma lata com água, sob a qual acendiam uma fogueira (ou o nosso fogão).
Para que o saco de cera se mantivesse no fundo colocavam-lhe pedras por cima. Desta forma, a cera fundida saía e era filtrada pela trama do saco, vindo depois à superfície. As restantes impurezas ficavam retidas dentro da serapilheira e nunca se misturavam com a cera.
Finalmente, o apicultor munido de um pau com uma lata na extremidade, ia retirando a cera à superfície e despejava-a para dentro dos respectivos moldes.
Uma vez fiz esta proeza, mas com um lume de chão. Uma lareira gigantesca, queimei a roupa, cabelos, parecia que estava numa sauna e em pleno Inverno...
Com este método enchem-se uma série de moldes de cera, mas sobrestimamos sempre a produção. No outro dia verificamos que os últimos recipientes pouco mais têm que uma fina película de cera à superfície da água.
16 abril, 2009
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