Muro Apiário Monte do João Pardo
Por vezes estamos tão perto que não conseguimos ver nada...
Foi a frase que me ocorreu quando numa noite da semana passada recebi um mail do Sr. Daniel Casado, Açoriano de S. Miguel e quase há um ano radicado em Sousel, onde desempenha as funções de Técnico de Turismo. Tem por hábito calcorrear o concelho que o acolheu em busca de novas atracções para mostrar aos visitantes. Em suma, passa os tempos livres a fazer o que melhor sabe: trabalhar com afinco e excelência, assim afirma quem o conhece.
Foi num desses passeios pela Serra de S. Miguel que o Daniel Casado encontrou dois muros apiários, assunto sobre o qual já tínhamos conversado outras vezes, por causa de alguns posts do montedomel.
Quando recebi as primeiras fotos fiquei deveras surpreso, pois eu próprio já tinha palmilhado a Serra noutros tempos e nunca vira nenhum. Curiosamente andei bem perto, mas os amores desses tempos eram mesmo as ervas aromáticas e flora autóctone em geral.
Mais tarde, e seguindo os concelhos do amigo Leonel Belchior, fui caçar enxames na Serra de S. Miguel, onde a floração é sempre mais atrasada e por isso as novas colónias se dirigem para lá. Desde esse tempo que tirei duas conclusões acerca do local: uma grande abundância de flora melífera associada a uma lamentável falta de água à superfície, o que a torna simultâneamente boa e má para a apicultura. Foi mesmo a falta de água que nunca me levou a ter abelhas nessas paragens.
Mas voltando aos “nossos” muros, no Domingo passado lá fui com o Daniel ver as ditas construções, das quais tiramos as seguintes fotos:
Muro Apiário Monte do João Pardo: Pormenor da data – 1945
As paredes são baixas, entre 1,20 e 1,50m, no segundo muro são ligeiramente mais altas.
Fica a nota de que na maioria dos muros que visitei não tinham a data assinalada.
Muro Apiário Monte do João Pardo: Pormenores do bebedouro
Outra estrutura que não estava habituado a ver neste tipo de construções: um bebedouro construído para o efeito com os mesmos materiais de construção.
Reparem nesta segunda imagem, no pormenor das paredes interiores do bebedouro, como são inclinadas de modo a que as abelhas possam pousar sem cair na água.
Muro Apiário do Monte do Gião de Fora
Muito semelhante ao anterior, não dista mais que dois ou três quilómetros, usaram os mesmos materiais e técnicas de construção, sendo no entanto de maiores dimensões que o primeiro.
Muro Apiário do Monte do Gião de Fora: Pormenor dos degraus e bebedouro.
As dimensões, a arquitectura e o pormenor dos degraus lembram quase o piso de um templo romano. Se a mão de obra não fosse tão barata à data da construção teriam de vender o mel bem caro.
Tal obra suportaria decerto duas centenas de cortiços, tais são as suas dimensões.
À semelhança do primeiro muro também tinha um bebedouro, mas mais comprido, proporcional às dimensões desta segunda silha.
Foi quando vi os bebedouros que me ocorreu a observação que fiz anos antes, ao classificar a Serra de S. Miguel como pouco aconselhada às abelhas por causa da falta de água. Característica que já devia ter há muitos anos.
Ambos os muros estão a ser usados por apicultores, um melhor tratado que outro. Ainda bem que os actuais abelheiros continuam a dar uso ao património apícola de Sousel.
Segundo Daniel Casado é possível que hajam outras construções semelhantes na Serra de S. Miguel, mas ficam para outro dia, outro passeio. Entretanto podem ver também as fotos de um Forno de Cal, construção muito característica desta localidade em tempos idos. A natureza do subsolo, muito rico em calcário, tornava rentável a exploração da cal, que depois de cozida era vendida nas redondezas para pintar as casas com a característica cor do Alentejo.
30 abril, 2009
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1 comentário:
Grandiosa obra de arte, realmente, tal apiário deve de ter uma historia de vida para contar, e com uma data bastante interessante, cada pedra cuidadosamente colocada... só narra a dedicação pelo trabalho apícola.
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