21 setembro, 2008

LE MONDE: Síndroma do Despovoamento de Colmeias (SDC)


Revelações perturbadoras, no entanto muito reais na edição de 19 de Setembro de 2008 no jornal francês “Le Monde”.

O Declínio das Abelhas produz os seus primeiros efeitos económicos
As abelhas domésticas diminuem por todo o mundo. Porquê?
As possíveis causas deste declínio estão no centro de vivos debates. Enquanto cientistas e apicultores discutem as possíveis causas, os primeiros efeitos na produção de frutos e legumes fazem-se já sentir nos Estados Unidos.
Dennys van Engelsdorp, de 39 anos, investigador no Departamento de Agronomia da Universidade da Pensilvânia – EUA, foi um dos primeiros cientistas a descrever o que os americanos chamaram Colony Collapse Disorder ou CCD (Síndrome do Despovoamento de Colmeias), no Outono de 2006.

Como definir o Síndroma do Despovoamento de Colmeias?
Trata-se de um fenómeno caracterizado pelo desaparecimento brusco, em alguns dias a algumas semanas, da quase totalidade de uma colónia de abelhas. Na colmeia pouco mais resta que a rainha e um punhado de abelhas jovens. Os cadáveres das abelhas adultas (desaparecidas) não se encontram na colmeia nem nas suas proximidades.

O declínio das populações de abelhas fora dos Estados Unidos também apresenta tais sintomas?
Foram identificadas situações semelhantes na maioria dos países Europeus. Mas aparte do que chamamos Síndroma do Despovoamento de Colmeias, constatamos uma mortalidade anual superior a 30%, em todos os países onde existe uma monitorização correcta da mortalidade das abelhas. Este ritmo não poderá ser suportado durante muito tempo.

Por agora quais são as repercussões económicas desta situação?
Nos Estados Unidos a problemática é diferente porque temos grandes apicultores, alguns dos quais detentores de 40 000 colmeias. Enquanto que na Europa não têm mais que várias centenas de colmeias/apicultor.
Um em cada dois apicultores nos EUA não vive do comércio de mel, mas antes da transumância e serviços de polinização. Ao contrário do que se passa na Europa, nos EUA há uma verdadeira indústria com apicultores a carregarem centenas de colmeias em camiões e que percorrem o país a vender serviços de polinização às grandes explorações de frutas e legumes.

Por exemplo?
Um apicultor da Pensilvânia começa a estação nos pomares de Laranjeiras da Flórida, depois regressa à Pensilvânia para colocar as colmeias nos pomares de Macieiras, seguem-se os produtores de Mirtilo do Maine, pomares de Amendoeiras da Califórnia...
Em cada mudança o apicultor aluga ao agricultor os serviços de polinização das suas abelhas. A questão económica não se reporta apenas à produção de mel, mas repercute-se bastante nos custos de produção de frutos e legumes.

E já se faz sentir esse impacto?
Actualmente os apicultores continuam a responder à procura de polinizadores. Mas se a mortalidade anual de 30% das colónias se mantém por mais três ou quatro estações, começaremos a ver os apicultores a fecharem as portas.
Há um verdadeiro risco. A Califórnia, por exemplo, produz 80% das amêndoas consumidas no mundo. Hoje faltam metade dos 2,4 milhões de colónias de abelhas americanas para polinizar os pomares de amendoeiras. Em 2012, se tudo continuar ao mesmo ritmo, nos Estados Unidos não existirão abelhas suficientes para polinizarem as suas culturas.

A redução das populações de abelhas já se fazem sentir: antes os apicultores alugavam as colónias de abelhas entre 45 e 65 dólares (32 a 46 €). Este ano, o preço pago pelos produtores de amendoas já se situa em torno dos 170 dólares (120,00€) por colónia. Globalmente, os custos de polinização aumentaram para todos os tipos de produtores.

Pela primeira vez, os produtores de pepinos da Carolina do Norte reduziram as produções em 50%, apenas porque não conseguiram alugar um número de colmeias suficientes que assegurasse a polinização.

E os polinizadores selvagens?
Nos estados unidos havia cerca de três espécies principais de Abelhões/Bombus , que tal como as abelhas também fazem a polinização. Uma das espécies está extinta, e as outras duas estão ameaçadas.
Na Europa, estudos recentes demonstraram que os polinizadores selvagens também se encontram em declínio, o que ameaça também as plantas selvagens que deles dependem.

Há um debate nos Estados Unidos sobre os pesticidas e a sua influência no declínio das abelhas?
Sim, uma das nossa prioridades é analisar os resíduos de pesticidas nas colmeias.
Mas quando retiramos amostras das colmeias atacadas ou não pelo CCD, não encontramos qualquer vestígio de resíduos químicos. No entanto, não é de excluir que os pesticidas tenham efeitos sub-letais algumas semanas após a exposição, provocando por exemplo um enfraquecimento do sistema imunitário dos insectos.

E as radiações electromagnéticas emitidas pelas antenas ou as recentes culturas geneticamente modificadas (OGM)?
Os autores de uma publicação que sugeriram uma eventual ligação às antenas de telefones móveis apontaram para resultados inconclusivos.
Relativamente aos OGM, nos Estados Unidos, as zonas onde existem mais culturas de milho transgénico não coincidem com as zonas de maior mortalidade de abelhas. Um estudo Europeu sugere que as colónias de abelhas expostas a culturas geneticamente modificadas pode torná-las mais sensíveis a certos patogénicos.
Nós sabemos uma coisa: encontramos junto a muitas abelhas afectadas pelo CCD uma forma de virús gripal Israeli Accute Paralysis Virus (IAPV) – Virús da Paralisia Aguda Israelita?. Mas a questão é saber porque é que ele é mortal numas colónias e não noutras...
No actual estado de conhecimentos, não podemos atribuir o declínio das Abelhas a uma única causa, mas sim a um conjunto delas.

A tradução, livre, foi minha, pelo que se houver alguma gafe...

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