
Detesto fazer isto, mas tem mesmo de ser...
Não é por nada, apenas porque mete uma parte na cozinha, e cada vez que eu lá entro disparam uma série de alarmes e... normalmente com razão.
Depois tenho que “afinar” as proporções de nutrientes, os tempos no fogão, o ponto do açúcar, a viscosidade final e... pasmem-se: o número de orifícios ou cortes no saco “alimentador”, para não falar no trabalho que dá incorporar os componentes numa mistura tão viscosa.
O Porquê da Alimentação Artificial de Manutenção ou de Inverno?
A maioria das colmeias que possuo são do modelo “Lusitana”, e as reservas de mel chegam e sobram para os três ou quatro meses de frio. O pior são as reservas de pólen, apesar dos eucaliptais e de algum alecrim, a flora polinífera da zona é muito escassa no Inverno.
Por isso, durante os meses de Novembro/Dezembro, confecciono sempre o dito suplemento nutritivo, dito de manutenção, uma vez que pela pequena percentagem de humidade é muito diferente dos néctares naturais recolhidos pelas abelhas, e como tal não estimulam a postura da rainha nem o consequente desenvolvimento da colónia.
Seria desastrosa a ministração de alimentos muito líquidos nesta data, uma vez que tal facto levaria a aumentos exagerados de criação e a impossibilidade das abelhas alimentarem tantas “bocas” com tais condições climatéricas.
Ingredientes por colónia:
Pólen ....................... 100g
Mel ......................... 100g
Açúcar ...................... 150g
O Pólen é de facto o componente mais importante, a parte proteica tão necessária na estação fria. No entanto é importante torná-la apetecível para as abelhas, pelo que se deve misturar com mel e ou açúcar. As 100 gramas de pólen podiam ser substituídas, neste caso, por 200 gramas de farinha de soja ou 50 de levedura de cerveja, mas prefiro o pólen por todas as razões.
O açúcar em maior quantidade que o mel deve-se ao facto de ser mais barato, e por outro lado torna mais fácil o controlo da viscosidade da mistura.
Os Custo$
Pólen ...................... 3,50 €/Kg ......... 0,35 €/colmeia.
Açúcar ..................... 0,85 €/Kg ......... 0,13 €/colmeia.
Mel ........................ 2,35 €/Kg ......... 0,24 €/colmeia.
O que dá um total de 0,72 €/colmeia em nutrientes, assumido agora um custo de 0,28 €/colmeia em gás, água, combustíveis e no saco, custa aproximadamente 1,00 €/colmeia. Mas acreditem que este número se encontra sobrestimado.
Procedimento:
Esta é a parte mais polémica e susceptível à crítica, no entanto vou apenas descrever como habitualmente faço as coisas, nem sempre isentas de erros.
1º – Começo por colocar o açúcar numa panela ao fogão, com um mínimo de água, pouco mais de meio litro a um litro para cinco quilogramas de açúcar. Por vezes adiciono também uma colher de sopa, quase cheia de sal grosso.
Deixo ferver até que a mistura fique transparente, ou seja, até que o açúcar seja todo dissolvido.
2º - Em seguida apago o fogão, deixo arrefecer uns minutos e coloco o mel que normalmente está cristalizado. A temperatura do açúcar é suficiente para descristalizar o mel e homogeneizar a mistura. É bom que se vá mexendo tudo com uma colher para não perder a fluidez durante o arrefecimento.
3º – Coloco a panela dentro de um alguidar ou outro recipiente com água fria para acelerar o arrefecimento.
Nesta fase, costumo humedecer o pólen, em pó, num recipiente à parte, com um mínimo de água tépida, para facilitar a dissolução na mistura de mel com açúcar. Não sei se facilitará muito...
4º – Quando a temperatura da mistura de mel e açúcar desce para os 40 a 30ºC, adiciono “bolas” de pólen previamente humedecido, com a ajuda de uma colher de sopa. Coloco quatro ou cinco bolas de cada vez e depois com a ajuda de uma colher de pau dissolvo o melhor possível. À partida parece missão impossível, pois a mistura está muito concentrada, mas apertando os grumos de pólen contra a parede da panela e não parando de mexer, consegue-se homogeneizar tudo.
5º – Finalmente, ...nem calculam como a palavra “finalmente” me é cara neste episódio do alimento artificial, com a ajuda de uma concha ou caço/cace de sopa, coloco três a quatro doses num saco de plástico. Cada dose rondará aproximadamente as 100 gramas.
Aqui são mesmo necessárias duas pessoas, uma para segurar o saco, junto à parede da panela, e outra para deitar o alimento.
Os sacos são depois atados com um nó, o mais baixo possível, cortando-se o excesso de plástico que só vai é atrapalhar as abelhas... e o apicultor.

Problemas mais comuns até esta fase:
A) - O alimento fica demasiado fluido para o efeito que queríamos, e como tal pouco apropriado para esta estação.
Das duas três, se detectou o problema no dia seguinte, quando a mistura já está dentro dos sacos de plástico e suficientemente arrefecida: não há nada a fazer!!! Quando isso me acontece guardo esses sacos para a ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL ESTIMULANTE, para lhes dar em meados de Fevereiro. Se tiver olho clínico para a culinária, e detectar o problema na panela antes de ensacar a mistura: ainda há remédio. Ou se junta mais um pacote de açúcar, não o derreta, adicione-o tal como sai do pacote, ou uma porção de farinha de soja ou ... mais pólen. Atenção que a última opção se bem que desejável é a mais cara.
Este problema, o mais comum, resulta dos “facilitismos” durante o processo de confecção, a adição exagerada de água para facilitar a dissolução do açúcar ou do pólen acaba sempre por se pagar mais tarde.
B) - O aquecimento exagerado do açúcar aumentará o HMF da mistura e tornará o alimento menos aconselhável/saudável para as abelhas.
De facto assim é, por essa razão verificaram que só aqueci o açúcar, exageradamente, para o poder dissolver e conferir à mistura o ponto desejado. O mel só recebeu o calor do açúcar fundido e pouca ou nenhuma alteração lhe trouxe.
Este problema pode ser resolvido de duas formas:
B1)- Fazer a mistura toda a frio, é muito fácil, bate-se o mel, pouco ou nada cristalizado, com o açúcar e com o pólen em pó. O truque é tentar homogeneizar o máximo possível até conseguir uma consistência semelhante ao barro amassado.





Não gosto deste método, apesar da facilidade de execução e de aplicação, pois basta ser colocado directamente em cima da prancheta ou sobre um prato de plástico. Normalmente sucede que as abelhas apenas sugam o mel, a parte húmida, já os cristais de açúcar juntamente com o pólen não são levados para o ninho, e perde-se o principal objectivo.
B2)- Misturar a frio apenas o mel líquido, mas muito viscoso, com o pólen, até obter a consistência desejada e aplicar como no caso anterior.
O principal inconveniente desta opção é o preço, uma vez que se usa apenas mel.
De qualquer forma, não creio que seja assim um problema tão grave, sempre tenho utilizado o método descrito sem qualquer surpresa desagradável.
C) – O saco está roto e começa a sair o xarope para o exterior. É preferível colocar o saco dentro de outro do que despejar o conteúdo do primeiro. Como está tão viscoso a maior parte vai-se perder.
Aplicação do Alimento Artificial de Manutenção

Outra dor de cabeça. Mais uma vez o truque é a redução de custos e a facilidade de execução.
Os alimentadores habituais, muito acessíveis no mercado, até são baratos. Mas quando o número de colmeias é grande... começam a ficar caros. Para não falar na dificuldade em transportar e montar várias dúzias de alimentadores.





Os sacos de plástico apresentam uma boa funcionalidade, e são muito baratos. Têm no entanto um problema: a dificuldade em aferir o número e o tamanho dos orifícios para a saída do alimento, em função da viscosidade deste e da população de abelhas.
Se está muito líquido e as abelhas são poucas, vai escorrer para o exterior. Se está demasiado sólido, torna-se difícil o acesso das abelhas.





Acabei por optar por colocar o saco com grandes aberturas dentro de um prato de plástico. O prato evita que o alimento se perca e tem bom acesso para as abelhas. Corre-se no entanto o risco de muitas morrerem afogadas, o que se resolve colocando ramos e folhas dentro do prato.


As abelhas não comem cogumelos!!!, só que encontrei-os no dia da "alimentação" e resolvi partilhar as imagens...