29 outubro, 2008

O medicamento não presta !

Uma das frases que mais ouvia entre os apicultores referia-se à ineficácia de determinados medicamentos: todos. Sempre que morria ou enfraquecia uma colónia a culpa era do acaricida utilizado, mesmo quando o responsável não era a Varroose.
O segundo lugar deste ranking era o mito de um alegado velhinho que tinha uns cortiços abandonados atrás daquela colina, que nunca tratava as abelhas, cujo apiário era um autentico foco de infecção. Após infrutíferas tentativas, nunca consegui encontrar os ditos cortiços, menos ainda o tal velhinho...
Não quero dizer que não há maus medicamentos, que os há de facto, mas a culpa muitas vezes tem a ver com a forma como são aplicados/utilizados. Muitos apicultores tal como os agricultores em geral têm o péssimo hábito de não ler o rótulo ou de não seguir as instruções do fabricante.
Diga-se em abono da verdade que muitas vezes as instruções de utilização se referem a condições ideais, nem sempre iguais à realidade. Uma das mais frequentes é o aconselhamento a colocar uma tira acaricida entre o 2º e o 3º quadro, e a outra entre o 7º e o 8º, quando pode acontecer que as abelhas e demais criação não se encontrem no centro da colmeia.


Numa situação destas, devemos confirmar a posição correcta da zona de criação e demais abelhas e tentar colocar cada uma das tiras acaricidas nos limites dessa zona.

Voltando aos erros mais frequentes na aplicação de medicamentos, encontrava muitas vezes no campo, além da segunda figura, situações como as seguintes:

- Pela dificuldade em introduzir tiras demasiado flexíveis no espaço exíguo entre dois quadros, o apicultor optava por deixá-las deitadas sobre os quadros, diminuindo consideravelmente o seu contacto com as abelhas.


- Por razões semelhantes à anterior e de uma forma muito mais fácil, o apicultor limitava-se a introduzir as tiras acaricidas pela entrada da colmeia, assentando-as no estrado e sob os quadros.


- Também era frequente encontrar colmeias onde não retiravam os medicamentos após o seu período de actuação. Tal prática leva ao surgimento de resistências no ácaro Varroa destructor tornando os tratamentos subsequentes obsoletos.


Uma vez até me deparei com uma situação muito curiosa, durante a visita a um apicultor muito temperamental e conhecido pelos seus acessos de mau génio. Ele queixava-se de uma mortalidade anormal nas colónias e sem qualquer razão que o justificasse, pelo menos aparentemente.
Após abrirmos umas quantas colmeias que já definhavam, verifiquei que o dito apicultor se dedicava a coleccionar no ninho as tiras acaricidas de muitos tratamentos anteriores. A julgar pelo número e fazendo as contas a quatro tiras por ano, talvez desde a entrada da Varroa em Portugal...
Olhe, nem com um alicate você as consegue arrancar”, foi a resposta evasiva à minha proposta de retirarmos todo aquele “lixo” da colmeia. Refeito da surpresa, disse-lhe que tirando os quadros do ninho seria muito fácil destacar as ditas tiras.
Nem no dia que fui inspeccionar apiários com um equipamento todo esburacado senti a minha vida tão ameaçada. Quando lhe falei em tirar os quadros do ninho, o homem olhou para mim como um pelotão de fuzilamento olha para o condenado, “nem pense numa coisa dessas, isso era o fim das abelhas...”.
Não foi o fim das abelhas, mas o apicultor, enquanto tal, durou pouco mais, com esta prática em poucos meses acabou por abandonar a actividade.

Outras vezes há em que seguimos todas as regras e instruções de aplicação e ainda assim as coisas correm mal. O próximo exemplo ocorreu comigo, na primeira vez que tratei as minhas colmeias contra a Varroose.
Apliquei as tiras acaricidas e no dia seguinte fui ao apiário para ver se estava tudo em ordem. Foi quando me deparei com um quadro que me deixou bastante apreensivo: à frente de cada colmeia tinha um grande monte de abelhas mortas, quando um dia antes o mesmo espaço estava limpo.

Numa situação destas é fácil atribuir culpas, a única variável antes da elevada mortalidade de abelhas foi mesmo a aplicação do medicamento.
Foi então que me apercebi de um facto curioso, apenas metade das colmeias tinham perdido abelhas, a outra metade não tinha sofrido qualquer dano. Este apiário tinha uma forma peculiar, por restrições de espaço coloquei as colmeias em “L”, e apenas num dos braços do “L” haviam abelhas mortas.
Nesta fase pensei que a culpa talvez não fosse do medicamento, pois a todas as colmeias tinha sido ministrada a mesma substância.

Numa observação mais acurada notei que as colmeias afectadas estavam viradas para Norte, sem protecção contra os ventos dominantes, enquanto as outras estavam viradas para Nascente.

Entretanto detectei mais uma série de erros, como o facto de ter aplicado o acaricida numa data em que as temperaturas estavam muito baixas, Dezembro, e ainda por cima ao fim do dia. Acontece muitas vezes que as abelhas incomodadas com o cheiro do medicamento venham para o exterior, e as temperaturas demasiado baixas fazem o resto.
Quando não temos alternativa a aplicar medicamentos nos meses frios, devemos optar por fazê-lo na parte da manhã e de preferência com muito sol, para que a colónia se reequilibre desta intrusão antes das temperaturas baixas da tarde e da noite.
Diga-se em jeito de graça que as “Estórias Apícolas” não acontecem só aos outros, fruto da minha inexperiência resolvi pura e simplesmente rodar as colmeias 180º para ficarem orientadas para Sul. E que rica ideia, horas depois tinha uma enorme mancha de abelhas nas traseiras de cada colmeia, onde antes estava a entrada. Abelhas que também começaram a sucumbir pelo frio. Lá voltei a girar as caixas para a posição original e mercê da sorte de principiante não perdi uma única colónia...

Que este exemplo sirva para ponderarmos bastante antes de cada acção no apiário, para que tenhamos presentes todos os nossos actos e intervenções, pois quando surgirem surpresas desagradáveis é muito mais fácil fazer um diagnóstico e actuar no sentido de resolver o problema.

Fica agora o conselho para o fim mais “digno” a dar aos medicamentos usados:

- Não devemos abandonar as tiras usadas no campo, (apiário), os químicos ainda activos irão poluir os solos e cursos de água.
- Queimar as tiras de medicamento também não é uma opção correcta, as toxinas resultantes da sua combustão poderão ser ainda mais poluentes.
- Os restos de medicamentos não devem ser colocados no lixo doméstico. Os apicultores devem procurar junto das respectivas associações ou entidades oficiais o melhor fim para dar aos medicamentos usados.
Há cerca de um ano que a ADERAVIS recolhe esses restos para que possam ser destruídos por uma entidade especializada para o efeito.

3 comentários:

Mel Fonte Nova disse...

Eng.Pifano na sua opinião em que direção deve estar as colmeias,será sul ,norte ou nascente ,poente? ou tem a haver com o local se tem mais horas de sombra ou sol ?. se possivel resposta pra meu mail obrigado PS.parabens plo seu blog

Mel Fonte Nova disse...

meu mail adelramos58@gmail.com

Mel Fonte Nova disse...

eu ainda comecei um blog que se chama MEL FONTE NOVA mas tenho poucos conhecimentos de computas e tou sujeito a que meu filho esteja disponivel pra me aturar ,mas sempre ponho lá umas fotos. até outro dia