30 dezembro, 2008
Alimento Artificial de Inverno
Detesto fazer isto, mas tem mesmo de ser...
Não é por nada, apenas porque mete uma parte na cozinha, e cada vez que eu lá entro disparam uma série de alarmes e... normalmente com razão.
Depois tenho que “afinar” as proporções de nutrientes, os tempos no fogão, o ponto do açúcar, a viscosidade final e... pasmem-se: o número de orifícios ou cortes no saco “alimentador”, para não falar no trabalho que dá incorporar os componentes numa mistura tão viscosa.
O Porquê da Alimentação Artificial de Manutenção ou de Inverno?
A maioria das colmeias que possuo são do modelo “Lusitana”, e as reservas de mel chegam e sobram para os três ou quatro meses de frio. O pior são as reservas de pólen, apesar dos eucaliptais e de algum alecrim, a flora polinífera da zona é muito escassa no Inverno.
Por isso, durante os meses de Novembro/Dezembro, confecciono sempre o dito suplemento nutritivo, dito de manutenção, uma vez que pela pequena percentagem de humidade é muito diferente dos néctares naturais recolhidos pelas abelhas, e como tal não estimulam a postura da rainha nem o consequente desenvolvimento da colónia.
Seria desastrosa a ministração de alimentos muito líquidos nesta data, uma vez que tal facto levaria a aumentos exagerados de criação e a impossibilidade das abelhas alimentarem tantas “bocas” com tais condições climatéricas.
Ingredientes por colónia:
Pólen ....................... 100g
Mel ......................... 100g
Açúcar ...................... 150g
O Pólen é de facto o componente mais importante, a parte proteica tão necessária na estação fria. No entanto é importante torná-la apetecível para as abelhas, pelo que se deve misturar com mel e ou açúcar. As 100 gramas de pólen podiam ser substituídas, neste caso, por 200 gramas de farinha de soja ou 50 de levedura de cerveja, mas prefiro o pólen por todas as razões.
O açúcar em maior quantidade que o mel deve-se ao facto de ser mais barato, e por outro lado torna mais fácil o controlo da viscosidade da mistura.
Os Custo$
Pólen ...................... 3,50 €/Kg ......... 0,35 €/colmeia.
Açúcar ..................... 0,85 €/Kg ......... 0,13 €/colmeia.
Mel ........................ 2,35 €/Kg ......... 0,24 €/colmeia.
O que dá um total de 0,72 €/colmeia em nutrientes, assumido agora um custo de 0,28 €/colmeia em gás, água, combustíveis e no saco, custa aproximadamente 1,00 €/colmeia. Mas acreditem que este número se encontra sobrestimado.
Procedimento:
Esta é a parte mais polémica e susceptível à crítica, no entanto vou apenas descrever como habitualmente faço as coisas, nem sempre isentas de erros.
1º – Começo por colocar o açúcar numa panela ao fogão, com um mínimo de água, pouco mais de meio litro a um litro para cinco quilogramas de açúcar. Por vezes adiciono também uma colher de sopa, quase cheia de sal grosso.
Deixo ferver até que a mistura fique transparente, ou seja, até que o açúcar seja todo dissolvido.
2º - Em seguida apago o fogão, deixo arrefecer uns minutos e coloco o mel que normalmente está cristalizado. A temperatura do açúcar é suficiente para descristalizar o mel e homogeneizar a mistura. É bom que se vá mexendo tudo com uma colher para não perder a fluidez durante o arrefecimento.
3º – Coloco a panela dentro de um alguidar ou outro recipiente com água fria para acelerar o arrefecimento.
Nesta fase, costumo humedecer o pólen, em pó, num recipiente à parte, com um mínimo de água tépida, para facilitar a dissolução na mistura de mel com açúcar. Não sei se facilitará muito...
4º – Quando a temperatura da mistura de mel e açúcar desce para os 40 a 30ºC, adiciono “bolas” de pólen previamente humedecido, com a ajuda de uma colher de sopa. Coloco quatro ou cinco bolas de cada vez e depois com a ajuda de uma colher de pau dissolvo o melhor possível. À partida parece missão impossível, pois a mistura está muito concentrada, mas apertando os grumos de pólen contra a parede da panela e não parando de mexer, consegue-se homogeneizar tudo.
5º – Finalmente, ...nem calculam como a palavra “finalmente” me é cara neste episódio do alimento artificial, com a ajuda de uma concha ou caço/cace de sopa, coloco três a quatro doses num saco de plástico. Cada dose rondará aproximadamente as 100 gramas.
Aqui são mesmo necessárias duas pessoas, uma para segurar o saco, junto à parede da panela, e outra para deitar o alimento.
Os sacos são depois atados com um nó, o mais baixo possível, cortando-se o excesso de plástico que só vai é atrapalhar as abelhas... e o apicultor.
Problemas mais comuns até esta fase:
A) - O alimento fica demasiado fluido para o efeito que queríamos, e como tal pouco apropriado para esta estação.
Das duas três, se detectou o problema no dia seguinte, quando a mistura já está dentro dos sacos de plástico e suficientemente arrefecida: não há nada a fazer!!! Quando isso me acontece guardo esses sacos para a ALIMENTAÇÃO ARTIFICIAL ESTIMULANTE, para lhes dar em meados de Fevereiro. Se tiver olho clínico para a culinária, e detectar o problema na panela antes de ensacar a mistura: ainda há remédio. Ou se junta mais um pacote de açúcar, não o derreta, adicione-o tal como sai do pacote, ou uma porção de farinha de soja ou ... mais pólen. Atenção que a última opção se bem que desejável é a mais cara.
Este problema, o mais comum, resulta dos “facilitismos” durante o processo de confecção, a adição exagerada de água para facilitar a dissolução do açúcar ou do pólen acaba sempre por se pagar mais tarde.
B) - O aquecimento exagerado do açúcar aumentará o HMF da mistura e tornará o alimento menos aconselhável/saudável para as abelhas.
De facto assim é, por essa razão verificaram que só aqueci o açúcar, exageradamente, para o poder dissolver e conferir à mistura o ponto desejado. O mel só recebeu o calor do açúcar fundido e pouca ou nenhuma alteração lhe trouxe.
Este problema pode ser resolvido de duas formas:
B1)- Fazer a mistura toda a frio, é muito fácil, bate-se o mel, pouco ou nada cristalizado, com o açúcar e com o pólen em pó. O truque é tentar homogeneizar o máximo possível até conseguir uma consistência semelhante ao barro amassado.
Esta imagem ilustra o resultado dos dois métodos propostos, mas com um erro: devia ter sido utilizado pólen em pó...
Não gosto deste método, apesar da facilidade de execução e de aplicação, pois basta ser colocado directamente em cima da prancheta ou sobre um prato de plástico. Normalmente sucede que as abelhas apenas sugam o mel, a parte húmida, já os cristais de açúcar juntamente com o pólen não são levados para o ninho, e perde-se o principal objectivo.
B2)- Misturar a frio apenas o mel líquido, mas muito viscoso, com o pólen, até obter a consistência desejada e aplicar como no caso anterior.
O principal inconveniente desta opção é o preço, uma vez que se usa apenas mel.
De qualquer forma, não creio que seja assim um problema tão grave, sempre tenho utilizado o método descrito sem qualquer surpresa desagradável.
C) – O saco está roto e começa a sair o xarope para o exterior. É preferível colocar o saco dentro de outro do que despejar o conteúdo do primeiro. Como está tão viscoso a maior parte vai-se perder.
Aplicação do Alimento Artificial de Manutenção
Outra dor de cabeça. Mais uma vez o truque é a redução de custos e a facilidade de execução.
Os alimentadores habituais, muito acessíveis no mercado, até são baratos. Mas quando o número de colmeias é grande... começam a ficar caros. Para não falar na dificuldade em transportar e montar várias dúzias de alimentadores.
Os sacos de plástico apresentam uma boa funcionalidade, e são muito baratos. Têm no entanto um problema: a dificuldade em aferir o número e o tamanho dos orifícios para a saída do alimento, em função da viscosidade deste e da população de abelhas.
Se está muito líquido e as abelhas são poucas, vai escorrer para o exterior. Se está demasiado sólido, torna-se difícil o acesso das abelhas.
Acabei por optar por colocar o saco com grandes aberturas dentro de um prato de plástico. O prato evita que o alimento se perca e tem bom acesso para as abelhas. Corre-se no entanto o risco de muitas morrerem afogadas, o que se resolve colocando ramos e folhas dentro do prato.
As abelhas não comem cogumelos!!!, só que encontrei-os no dia da "alimentação" e resolvi partilhar as imagens...
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17 comentários:
Não gosto nada deste tipo de operações apicolas, o alimentar (já o fiz noutras ocasiões), existem várias receitas para este tipo de alimentação sólida mas nunca vi resultados completamente satisfatórios das vezes que a pratiquei. Há que saber bem as doses e também me parece que para termos bons resultados há que haver periodicidade na aplicação.
Normalmente e felizmente na região Oeste não é necessário alimentar no Inverno, nalgumas zonas temos o Eucalipto e isso permite manter e até desenvolver as colónias para a Primavera, no entanto este ano parece-me que o rendimento desta floração está abaixo do habitual.
ó amigo sergio você e eu e outros estamos numa zona previligiada raramente precisamos de fazer alimentação artificial,quanto á floração do eucalipto não noto diferença o pior é a chuva ,mas como é necessária fazemos como os espanhóis que chova .Quanto ao eng.Pifano parece que tá a começar o novo com pedalada pra subir a serra da estrela, por mim naquilo que possa ser ùtil o eng. disponha sempre. Um abraço e toca a comentar
Sérgio. Sou apicultor em Itamarandiba-MG, faço parte de uma associação ,mas não temos acesso a cursos, aprendemos mais com a experiencia ue trocamos uns com os outros. Na nossa região, de outubro a novembro, com a florada do babatimão perdemos muitas colméias, em 2008 perdi 50% dos enxames, por isso me interessei por sua receita. É aconselhável ou você me indica outro processo?
Amigo Sergio
A receita que proponho destina-se a uma alimentação artificial de manutenção, onde se pretende que as colónias não evoluam muito (pois estamos no Inverno) e seria desastroso aumentar a postura da rainha. O objectivo é mesmo fornecer pólen à colónia para que possa facilmente sobreviver nesta estação e estar forte mal comece a época produtiva de Primavera.
A região para a qual aconselho esta receita é muito carente em flora de Inverno rica em pólen.
Tenho a maior vontade de o ajudar, mas desconheço por completo a Vossa apicultura, a região e o tipo de flora onde tem a exploração.
Se me puder fornecer outros dados, pode contactar-me em:
montedomel@gmail.com
Um abraço
Joaquim Pifano
Parabens pelo site, sou zootecnista e consultor do SEBRAE e trabalho com tres cadeias produtivas e uma delas apicultura.
Gostaria de pedir-lhe a permissão de usar algumas fotos do seu site, com todos créditos citados.
Desde ja agradeço.
Fico no aguardo
www.radarrural.com.br
Olá Anthero,
Fico muito satisfeito por o "montedomel" poder ser útil em seu trabalho.
Utilize todas as imagens ou textos do site que lhe forem necessários.
Alguma informação adicional pode-me contactar em:
montedomel@gmail.com
Joaquim Pifano
boa tarde
podemos trocar os 100 gramas de polen por farinha de milho ou farinha de trigo
cumpr
Jorge Sousa
boa tarde
a onde é que o senhor compra polen a 3.5€ o quilo?
Olá Jorge,
Eu não o faria. Pretende-se que o pólen seja a componente proteica do alimento artificial e o trigo e o milho serão mais ricos em amido (açúcares) que em proteinas.
Desde há uns meses que a Macmel comercializa levedura de cerveja, em sacos de 1kg (mais barato que o pólen) e com muito bom efeito no alimento artificial (enquanto fonte de proteina).
De qualquer forma, o ideal é conseguir comprar o pólen em pó (de refugo) que se consegue a 3,0 a 3,5€/kg
espero ter ajudado...
abraços
Joaquim Pifano
Olá Pedro
envie-me um mail para montedomel@gmail.com que eu dou-lhe o contacto para comprar o pólen
Boa noite,
É de realçar que a levedura tem um nível de proteínas mais elevado que o polén... o que torna a mistura/xarope menos dispendioso.
Para além da Macmel, também a Vetromarim e alguns outros já fornecem levedura a preços semelhantes ao do polén.
ola amigo o meu nome é Carlos,e queria desde já agradecer a boa informação partilhada por si sobre a apicultura :)
eu comecei este ano a minha atividade apícula possuindo atualmente 45 colmeias,
e como estamos a chegar ao Inverno estou muito interessado em utilizar alimentação artificial,
no entanto andei a pesquisar e verifiquei que os produtos utilizados por si o mel o polem e a levedura de cerveja,
são de custo muito elevado e não encontrei onde comprar aos preços que você mencionou,ficava muito grato se me pudesse indicar o local onde eu possa adquirir a preços mais baixos....
o meu muito obrigado cumprimentos
ola amigo o meu nome é Carlos,e queria desde já agradecer a boa informação partilhada por si sobre a apicultura :)
eu comecei este ano a minha atividade apícula possuindo atualmente 45 colmeias,
e como estamos a chegar ao Inverno estou muito interessado em utilizar alimentação artificial,
no entanto andei a pesquisar e verifiquei que os produtos utilizados por si o mel o polem e a levedura de cerveja,
são de custo muito elevado e não encontrei onde comprar aos preços que você mencionou,ficava muito grato se me pudesse indicar o local onde eu possa adquirir a preços mais baixos....
o meu muito obrigado cumprimentos
sou julio rosa li com muita atenção a feitura da mistura da comida artificial pois sem ter lido esta receita eu tinha feito uma muito parecida e ficou com uma consistência fabulosa mas da segunda vez aconteceu-me exactamente aquilo que descreve, o facilitismo! um pouco de água a mais e já está, tudo mole e difícil de aplicar,parece que temos que passar pelos problemas para aprender-mos mas é mesmo massim
até uma proxima
abraço
Caro Júlio Rosa,
Por vezes também me "escapa a mão" e o alimento fica demasiado líquido.
Nessas alturas costumo emendar a consistência adicionando farinha branca de neve.
Há quem diga que é nutritiva para as abelhas (no Brasil usam a farinha de trigo)
tenha atenção que é farinha sem fermento, pois agora comercializam as duas
abraço
Joaquim Pifano
Boa tarde Sr. Alien
Estou a implementar, junto com o meu irmão e um amigo apicultor apiários para a manutenção e aumento dos enxames na área da Serra de São Mamede.
Estou igualmente a construir um site de divulgação da actividade a que me dedico.
Pretendo utilizar o mesmo para divulgação de opiniões e notícias a nível mundial, da situação alarmante em que se encontra a apicultura e o numero de enxames.
Queria perguntar se poderia colocar muita da belíssima informação que tenho lido no seu blogue que acho extremamente relevante e interessante.
Atentamente,
Bruno Machado
Caro Bruno Machado
Sinta-se à vontade para divulgar qualquer informação
deste blogue que ache interessante, deverá no entanto
divulgar também as referências/créditos
Qual o site em que vai fazer a divulgação?
abraço
Joaquim Pifano
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