14 julho, 2009

Apiário: Girassol de Regadio

Podia haver apicultura sem o Girassol no Verão?
Podia, mas não era a mesma coisa...

Desta vez apresento-vos as imagens e algumas “observações” que fiz no fim de semana, aquando da visita a um apiário de 40 colmeias que tenho no girassol de regadio.
Tal como disse na última mensagem sobre o tema, este ano tenho uma óptima oportunidade de testar a produção de mel de girassol em três situações distintas:
Girassol de sequeiro numa única folha.
Girassol de regadio (o tema de hoje)
Girassol de regadio sem água, perdoem-me a graça, mas apesar das estruturas de rega este girassol não foi regado (ver: O MELHOR APIÁRIO DO MUNDO). É semelhante ao primeiro mas com a vantagem de ter três folhas distintas em diferentes fases vegetativas, o que poderá prolongar a floração no tempo.

À data desta mensagem, as colmeias já estão neste assentamento há cerca de um mês, apesar da floração só ter sido iniciada há uma semana. O período de interregno entre a instalação do apiário e a floração foi pouco produtivo, apesar da abundância de silvas em flor, o que de certa forma animou as colónias...

Um dos objectivos da visita ao girassol foi a tentativa de ver e fotografar as gotículas de néctar que se acumulam na zona central da flor. Estas gotas de néctar surgem numa fase muito precoce da flor, e pela forma como estão expostas, parecem ser de fácil mobilização pelo aparelho bucal sugador das abelhas.
Foi fácil encontrar e fotografar as ditas gotas, procurando o ângulo correcto dos raios solares os reflexos luminosos depressa traem a sua posição. Umas formam verdadeiras esferas de néctar transparentes, e outras, aparentemente com menos humidade, fazem lembrar secreções resinosas.
Ambas são mais visíveis na parte central da flor, já a região exterior do disco encontra-se repleta de pequenas flores que exibem as partes sexuais femininas e masculinas, onde abunda o pólen.
Para meu espanto não encontrei uma única abelha na parte central das flores, todas as que vi, e não foram poucas, encontravam-se na orla sobre a zona com pólen e completamente “empoeiradas” desta substância.
Ou o “meu alegado néctar” era de pouca importância para a economia das abelhas, ou então a colecta de pólen era muito mais atractiva. Faltando ainda a hipótese que nessa região da flor também houvessem nectários mais discretos:


Outro aspecto que me chamou a atenção foi o número de abelhas por flor de girassol. Na última mensagem sobre o tema (ver: MAIS GIRASSOL...), escrevi que era raro observar-se mais que uma abelha em cada flor.
Até porque a densidade de colmeias foi “calculada” para evitar competição entre os insectos: 40 colmeias - 35 ha de girassol. O ano passado coloquei 65 colmeias nos mesmos 35 ha, ainda por cima numa densidade de sementeira mais baixa que a actual. Ainda assim consegui uma produtividade muito boa.
Quando me abeirei do girassol fiquei surpreendido por contar quatro, cinco, seis e até oito ou nove abelhas/flor. O meu primeiro pensamento, um pensamento muito “luso-egoísta”, foi logo para “quem teria vindo colocar mais colmeias neste local?”.
Obviamente que ninguém, não foi necessário muito tempo para perceber que boa parte da flor já estava em declínio, restando fortes e viçosas as plantas das bordaduras (onde eu me encontrava) e com a falta de flores a densidade de abelhas subiu para o triplo ou o quadruplo.
É uma pena que esta floração seja tão breve, apesar de regada esta folha de girassol só floriu há uma semana e não vai durar muito mais. Arrependi-me de não ter adensado mais a carga apícola do local, fica para o ano...

Reparem como as abelhas "evitam" a parte central da flor, onde se encontram as alegadas gotas de néctar. Em contrapartida abundam na região do pólen...

Na inspecção propriamente dita às colmeias encontrava-se de tudo um pouco:
Alças com poucas reservas de mel, grupos de 20 ou 30 alvéolos de néctar aqui, mais 30 ou 40 acolá, e a péssima sensação que não a conseguirão encher até ao fim da floração. Estas colmeias (apesar da população) parecem ter dificuldade até em “puxar” e nivelar os cortes feitos na cera durante a extracção do mel...

Alças com reservas medianas de mel, com a maioria dos alvéolos cheios mas ainda por opercular (e quase sempre com algum espaço livre para encher).

Alças cheias de mel, já operculado e prontas para a cresta.
O mel de Verão, tal como o do girassol, do cardo ou melada de azinho não necessita de estar operculado para poder ser crestado. Os níveis de humidade face às temperaturas estivais não constituem qualquer entrave ao armazenamento seguro do mel.

Um aspecto comum a todas as alças e colmeias neste local: a dificuldade em descolar as pranchetas tal como os quadros, aliada a grandes reservas de própolis muito pegajoso por todo o lado... Não são raros os quadros ou pranchetas quebradas sempre que os tentamos retirar à força.

Outros polinizadores:
Não sei que “bicho” era mas pelo aspecto e pela forma ocupada com que “chafurdava” na flor, tratava-se decerto de um polinizador.
Em largas dezenas de flores que passei a pente fino foi o único insecto que encontrei além das abelhas. Isto chamou-me a atenção, como é possível que outros polinizadores não se sintam atraídos para tamanha concentração de pólen e néctar? A princípio até me agradou a falta de concorrência à colecta das minhas abelhas, o mel recolhido parece-nos sempre pouco.
Foi já a caminho de casa quando reflecti sobre o assunto do polinizador isolado:
E se as ditas ameaças que todos os dias pairam sobre as abelhas, a apicultura (e sobre os apicultores) se venham de facto a realizar, o que vai ser da flora espontânea ou das culturas?
A melhor resposta tinha-a encontrado momentos antes, um único insecto (e bem pequeno) como alternativa às centenas de abelhas para polinizar uma área relativamente vasta...

As mal amadas Cetónias... parecem autênticos buldozers a abrir estradas ao longo dos favos. Encontram-se às dúzias nestes locais tal como na tábua de voo, no fundo da colmeia ou entre o tampo e a colmeia. Chegam a acasalar dentro das colmeias e cortiços...
Num acesso de fúria desferimos-lhe um golpe com a ponta do alicate levanta quadros, é quando descobrimos perplexos a forma como a Natureza protege os seus filhos: a forma arredondada do coleóptero, aliada à extrema dureza e polimento da casca faz com que no embate da ponta metálica o insecto seja projectado a grande distância, onde levanta voo e parte ainda com mais saúde...




Um casamento entre vizinhos: o pão com mel...
Ninguém consegue ficar indiferente aos contrastes nesta zona do Alentejo: Um campo verde e amarelo (lembra a bandeira do Brasil) de onde irão resultar litros e litros de óleo e de mel. Muito próximo um campo de trigo cujos grãos já foram para a moagem, de onde resultará mais tarde o pão para barrar com os outros dois produtos nascidos ali ao lado...

1 comentário:

Mário disse...

Era sem duvida uma boa oportunidade para a colecta de pólen.
Gostei das imagens, especialmente a do pão com mel, está simplesmente fantástica :)