16 julho, 2009

Substituição de Ceras: uma experiência

Desta vez apresento-vos uma curiosa observação feita pelo apicultor Carlos Correa, do estado de S. Paulo Brasil.
O Carlos conta-me que fora da época de entrada de néctares, nas suas colmeias, as abelhas roem as laterais dos quadros de cera alveolada diminuindo a área de criação e o depósito de mel. Elas comportam-se desta forma para mobilizarem cera para a construção dos alvéolos, não utilizando as suas próprias reservas para fabricar cera.

Ele resolveu testá-las trocando os quadros de cera velha por outros com cera alveolada (moldada) no início da floração, no momento em que as abelhas abandonam a alimentação artificial e passam a recolher néctar natural.
Dois dias após a troca foi inspeccionar as ceras novas e foi surpreendido ao ver os alvéolos apenas iniciados e já com postura em toda a sua área (situação com que eu já me deparei diversas vezes). Até junto à régua de apoio do quadro havia criação, uma área habitualmente ocupada por mel. Não haviam muitos alvéolos para zangãos, o que ainda mais agradou ao Carlos Correa.
Ficou tão satisfeito com tais observações que resolveu proceder da seguinte forma em todos os apiários que possui:

No momento em que termina a fase da alimentação artificial e se inicia a floração natural, retira de cada colmeia os quadros números (1) e (10), que se encontram nessas posições por estarem mais velhos e com a cera mais escura. Retira também dois quadros com mel e criação operculada (que estavam noutras posições da colmeia) e transfere os quatro para um sobre-ninho (alça ou corpo igual ao ninho) sobre a própria colmeia:


No ninho, seleccionam-se os quadros cuja cera está mais velha e colocam-se nas posições (1) e (10), mesmo que tenham criação, irão sofrer o mesmo processo na próxima temporada. Os restantes quadros do ninho são todos colocados numa das extremidades, completando-se os espaços vazios com quatro quadros de cera alveolada (puxada).
O sobre-ninho (corpo igual ao ninho) é também completado com novos quadros e é “separado” do ninho por uma tela excluidora (grade excluidora de rainhas):

A população que irá nascer dos quatro novos quadros do ninho aproxima-se da população antiga, quase dobra. Já na segunda postura a situação normaliza, com depósitos de mel junto à régua de suporte do quadro, e a população da situação anterior com a vantagem da lâmina de cera já estar soldada na régua inferior e laterais.
A criação nascida no sobre-ninho irá nascer, descer para o ninho e os respectivos alvéolos preenchidos com mel. Esta população adicional auxiliará muito o aumento da produção.
Esta situação só resulta na totalidade em presença de rainhas novas...
O Carlos aconselha também que para maximizar esta técnica convém ter disponíveis quadros com cera puxada para colocar no sobre-ninho.

9 comentários:

Apisarte disse...

Realmente é uma observação interessante, embora eu ache que quando elas “vão ao celeiro”, as suas intenções são de sobrevivência e muitas vezes nesta circunstancia a rainha é obrigada a reduzir a sua postura.
Já usei um método semelhante para reforço de abelhas para colecta de mel com sobreninho (Demaree) e também o faço para retirar os quadros com ceras velhas de outras colmeias, reunindo numa só colmeia os quadros velhos. Também costumo desopercular os quadros que têm mel mas que têm as ceras mais fracas, para as abelhas retirarem o mel e eu mais tarde retiro os quadros.
Se o timing não for o correcto e coincidir com um grande fluxo de néctar à entrada, vamos ter o sobreninho cheio de mel e com quadros aonde tiveram ou têm mel que esteve em contacto com tratamentos preventivos.
O que é de todo desaconselhável!
Voltando á observação do Carlos, também reparei que tenho menos problemas, fazendo rasgos na cera junto ao caixilho, para as abelhas e a rainha comunicarem melhor, fiz isto este ano na Langstroth, aonde coloquei os quadros entre a criação e não tive problemas.
Fico contente por saber que alguém tão longe de nós, partilha ideias tão próximas!
Um bem-haja.
Carlos Pimenta

Ricardo Duarte disse...

Boa noite
Eu tenho algumas dúvidas em relação a este método.

Os quadros que se retiram do ninho com criação não deveriam ser retirados da alça quando estiverem vazios?(quando a criação sair do alvéolo, porque como se sabe os quadros do ninho ficam contaminados por acaricidas. E o que se faz com os quadros 1 e 10 que saíram do ninho? normalmente o quadro 1 e 10 estão cheios de mel mas esse mel como se sabe não deve ser colectado pra consumo humano.

Alien disse...

Olá Ricardo,

Confesso que acho o método algo confuso e pessoalmente ñem uso sobreninhos. De qq forma tem razão, esses quadros que já estiveram no ninho (supostamente em contacto com acaricidas) não devem ser usados para armazenar mel.
Quando substituo ceras, os quadros com mel que tiro do ninho são centrifugados e esse mel é usado para alimentação das abelhas.

Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Sendo assim parece-me que este método parece ser eficaz para aumenta a população da colmeia apenas em algumas ocasiões e cumprindo alguns requisitos:

-quando as ceras do ninho estiveram velhas,porque essa cera vai para reciclar.
-é necessário tempo quente para evitar que a criação do sobre ninho sofra frio

estarei certo?
cumprimentos
Ricardo Duarte

Alien disse...

Sim Ricardo, concordo consigo
até porque há outros métodos mais expedictos para estimular o aumento
da zona de criação...

Joaquim Pifano

Anónimo disse...

Já agora se não for pedir demais podia revelar esse metódos?
cumprimentos
Ricardo Duarte

Alien disse...

Olá Ricardo Duarte,

Refiro-me ao post publicado no montedomel em 04 de Fevereiro de 2009,
Equilibrar uma Colónia de Abelhas, veja no seguinte link:
http://montedomel.blogspot.pt/2009/02/equilibrar-uma-colonia-de-abelhas.html

abraços
Joaquim Pifano

Anónimo disse...

boa tarde
O senhor Pifano disse que algumas abelhas roiem as laterais dos quadros para evitarem utilizar as proprias reservas..

Não seria boa ideia guardar a cera dos alvéolos no fim da cresta, para posteriormente adicionar á colmeia?
Desta forma as abelhas reciclavam a cera dos alvéolos e se essa cera anda tivesse algum mel dava uma ajuda a colmeia.

cumprimentos
Jorge Soares

Alien disse...

Olá Jorge Soares,

Como poderá ver no texto não fui eu que fiz tal observação, mas sim o Sr Carlos Correa, de SP - Brasil.
Pessoalmente nunca vi nada semelhante, não creio que se fornecermos cera às abelhas que elas a vão reciclar para construir alvéolos, mesmo que essa cera vá tão fragmentada como os opérculos...
mas é apenas a minha opinião

abraços
Joaquim Pifano