01 julho, 2009

Mais Girassol...

Um dos meus apiários de Verão no Girassol de sequeiro.
Este tipo de Girassol tem vantagens e desvantagens, há quem diga que por não ser regado os açúcares (néctares) estão mais concentrados e as produções são maiores. Por outro lado, e segundo as mesmas fontes, a ausência de rega não “lava” o néctar das flores e a melada da planta. Mas se a “seca” for tanta que não ajude a planta do ponto de vista vegetativo...
Este ano vou ter oportunidade de fazer a experiência, uma vez que tenho colmeias em Girassol regado e não regado. E ainda... já cá faltava, um terceiro e curioso tipo de Girassol, o Girassol de regadio sem água. É uma forma de cultura que a rapaziada anda a desenvolver aqui no Alentejo, creio que fazem a sementeira em terrenos de regadio (mais subsidiados) e depois... se as plantas quiserem água vão bebê-la à barragem que fica sempre por perto...


E agora o que se chama “perder uma boa oportunidade de ficar calado”:
Não sei se alguém já se interrogou acerca da estranha forma helicoidal como a flor do Girassol é desenhada, à semelhança das pinhas, ananases e muitas outras flores e folhas na Natureza?
Cada folha, ou flor (neste caso) é “inserida” no caule (ou estrutura de suporte) a cada 37º virgula qualquer coisa, que não é mais que o limite da Série de Fibonacci se a memória não me falha...
Ou seja, ... se bem que este “ou seja”, não vai clarificar muito mais as coisas..., cada flor de girassol (mini-flor) cria um halo de inibição que só deixa crescer a próxima flor a uma determinada distância e rotação de 37, ?º...
Mas tal como eu não se preocupem muito com isso, o Girassol há-de dar mel da mesma forma...

Coloquei cerca de dezoito colmeias para 27 hectares de Girassol (neste campo), é uma densidade baixa de colmeias.
Quando o Girassol era de ciclo longo (a flor durava quase um mês) a quantidade de colmeias/hectare era muito menor (cerca de 0,5), agora chego a colocar duas colmeias hectare (e três) uma vez que a floração quase não chega às duas semanas.
Nestas circunstâncias (18 colmeias: 27 hectares) é raro verem-se imagens como a anterior, duas abelhas numa flor. No entanto, lembro-me de há três anos, onde nesta região apenas fizeram meio hectar de Girassol, encontrava cinco e seis abelhas na mesma flor.


Não é assim que se tiram fotografias ao Girassol, as plantas estão todas “de costas”. Mas para as fotografar de frente teria de andar quase um km, ainda por cima eram três horas da tarde e estava calor...
De qualquer forma reparem na riqueza deste local, o montado de sobro e azinho poderão constituir boas fontes de melada nestas manhãs húmidas e de nevoeiro.


Uma pequena flor de Girassol, característica da cultura de sequeiro.
Os agricultores a apicultores referem-se ao Girassol antigo (de ciclo longo) como tendo grandes “cabeças” grandes flores, lembram até as “rodas de um carro”.


Mais duas abelhas que se encontraram na mesma flor.
Reparem na “floresta” de estruturas produtoras de pólen e néctar onde as abelhas se encontram.
O Girassol pertence à família botânica das Compostas (Compositae, para dar aquele ar de entendido...), cuja principal característica é que cada flor não é uma única flor, mas sim uma grande quantidade delas.
O mesmo acontece com os malmequeres, as margaridas, camomilas, etc...
O conjunto de flores evoluiu de tal forma que em vez de surgirem num cacho como muitas outras plantas, surgem numa estrutura cuja forma lembra... uma flor!
As flores centrais, como poderão ver nesta e noutras imagens à frente, têm as pétalas pouco desenvolvidas, as periféricas cuja função è de atrair os insectos, desenvolveram grandes pétalas com uma cor amarela muito apelativa.
Cada uma das pequenas flores (que constituem o Girassol) possuem estames, carpelo, estigmas, óvulos, ovários e pólen, e cada uma dará origem a uma semente (se for polinizada).
A grande vantagem para abelhas e apicultores é que as flores se encontram juntas em capítulos, e os capítulos juntos na área de cultivo, o que disponibiliza toneladas de néctar e pólen às abelhas sem que elas tenham de se deslocar muito.

O Girassol ainda não abriu.
Ainda assim, é demasiado tarde para as abelhas. Nunca devemos deslocar as colmeias para um campo de Girassol quando a cultura já se encontra nesta fase. É uma perda de tempo e esforço.
A não ser claro está, que as colónias estejam muito activas, venham de outra produção e tenham muita população, para que possam começar a trabalhar de imediato.
A fase ideal para levar as colmeias para esta cultura é quando as plantas têm entre 30 a 50 cm (altura dos joelhos).
Normalmente quando o fazemos o Rosmaninho já não tem floração há quase um mês e as rainhas quebraram o ciclo de posturas. As abelhas preparam-se para o período estival, as colónias regridem em número de indivíduos e tornam-se menos activas.
Quando as levamos para o Girassol, por qualquer fenómeno evolutivo (co-evolução entre o Girassol e as Abelhas), esta planta “prepara” as Abelhas para a polinização. Isto é, a cultura do Girassol “percebe” que vai necessitar de grande quantidade de polinizadores para tão grande quantidade de flores. Para isso e muito cedo estimula as colónias de abelhas a aumentarem de dimensões. Muito antes da floração a planta do Girassol produz e disponibiliza uma melada que irá estimular a abelha rainha a aumentar a postura.
Desta forma, quando a flor surgir, as colónias de abelhas estarão suficientemente fortes e populosas para darem conta do recado...
Há quem diga que mais de 50% do mel de Girassol é produzido antes desta planta florir...


Cá está outra abelha num autêntico “canteiro florido” que não é mais que uma flor de Girassol.

Acabou a floração do Girassol.
Daqui as abelhas já pouco ou nada conseguem tirar. A não ser que haja Cardo nas proximidades.
Tirei a fotografia porque achei a imagem curiosa, parece uma plantação de “Varroas gigantes”...livra... se as pequenas já são o que são...



O facto de haverem plantas em diversas fases vegetativas é sempre uma ajuda.
Quando umas deixam de disponibilizar néctar há outras que iniciam agora a produção.


O mais importante:
A visita do Mário e da Natália da “Ferradela” ao Monte do Mel.
É preciso coragem para uma fotografia destas sem teleobjectiva, e o Mário ganhou o direito de provar o mel do Monte do Mel, pois no minuto seguinte levou uma tremenda “Ferradela” no braço...
Espero que o Mário perdoe a agressividade das abelhas e tenha apreciado a visita ao meu apiário...

7 comentários:

sergio_apic disse...

Não sou um entendido em Girassol pelo que é muito util e interessante ler este artigo sobre o Girassol, mas depois de ver estas fotos, vêem me á memória boas recordações e só tenho palavras para dizer isto: " Meu querido Alentejo, bons momentos que guardo no coração, quem por lá passa, quem por lá já viveu... jamais esquece."

Abraço, e espero que esta campanha do Girassol seja de boa memória.

A.Ramos disse...

Começo a ficar com "inveja" do Alentejo por causa do girassol (estou a brincar... claro que não).
Aqui no Alto Douro, não temos grandes alternativas para a tansumância, tirando a floração da primavera e alguma (pouca)no inicio do verão, pouco mais existe além de vinhas e mais vinhas. E ainda temos o problema dos pesticidas/fungicidas (sulfatos)que são aplicados nas mesmas constantemente desde Maio até quase ás vindimas, . Além disso, os terrenos (bem como caminhos rurais) são tão acentuados que a transumância seria uma tarefa quase impossível .Assim, a maioria dos apíários desta zona, onde nasce, é onde morre...
Porém, nem tudo é mau, pois o mel é de uma qualidade excelente.
Abraço e boa colheita
António Ramos

Alien disse...

Caro A. Ramos,
Será um prazer receber cá as suas abelhas em transumância, não sei é se a distância ajudará muito na contabilidade...

De qualquer forma levantou uma questão muito pertinente ao referir as limitações florísticas dessa região, nomeadamente o facto de a época produtiva ser curta (?) e não permitir transumância.
Confesso-lhe que um dos trabalhos mais produtivos que faço em apicultura é quando (tenho disponibilidade) e dou umas voltas pelo campo em busca de novos assentamentos para as colmeias.
Umas vezes encontro, outras não (as últimas são mais frequentes).
De qualquer forma não tenho muitos locais "definitivos".
Temos o hábito de encontrar um bom sítio e ficarmos por aí, o que não é muito correcto. Por qualquer razão as condições mudam, o nosso local deteriora-se, outro local é bastante melhorado (etc...) e isso reflecte-se nas produções.
Gosto de encarar a apicultura de uma forma muito dinâmica, chego a praticar a transumância só com a justificação de as abelhas mudarem de local, para desabituar os predadores, doenças, proximidade de água e sombra no Verão, etc... já devo ter esccrito acerca destas e doutras razões nalguns posts lá pra trás.
De qualquer forma fico satisfeito por a qualidade do mel na sua região compensar a quantidade,

Um abraço
J.Pifano

Mário disse...

Amigo e Mestre Pífano, que bela surpresa, recordo cada imagem do imenso e belo Girassol, do amarelo a perder de vista, da ferradela no braço e da doçura no palato que por direito daí derivou.
Quanto ao apíario, alças para cima até as costas não poderem mais :)

Grande Abraço
Ferradela

Unknown disse...

Bom dia!! Meu nome é Walter... Sou apicultor iniciante aqui no Brasil (tenho apenas 50 colméias ) e estou a iniciar o translado de minhas colméias para um lindo e extenso campo de girassol. Muito proveitoso foi ler este texto, pois, logo de início já pude perceber que cometi um erro muito grave por falta de experiência com a cultura do girassol, em especial ao que se refere a ter que levar as colméias para a plantação bem antes da florada... Não tinha este conhecimento sobre a melada estimulativa que esta planta proporciona e só levei minhas colméias agora quando a florada já está iniciando!

Neste sentido, gostaria, se possível, estreitar relações com algum Apicultor aí de Portugal que se disponha a compartilhar comigo um pouco do conhecimento adquirido nesta prática, para tanto deixo meus contatos e desde já agradeço à todos. Saudações Apícolas!
Email: apicultorwalter@gmail.com Telefone(WhatsApp) 55 061 996273051

Unknown disse...

Estimados amigos,
Planejamos ir a Portugal no próximo ano e nos agradaria muito ver um campo de girassóis florido. Em que mês do ano começa a floração e em que lugares do Alentejo (ou de outras regiões do país) podemos encontrá-los?
Abraços,
Daniel&Gilda

Alien disse...

Olá Daniel e Gilda

Não tenho muito boas notícias... a agricultura em Portugal todos os
anos sofre uma volta de 180º... pelo que este ano (tal como nos 2 ou 3 anteriores)
pouco ou nenhum girassol encontrei nos campos do Alentejo.
Se vierem este ano, creio já ser um pouco tarde para encontrar Girassol florido,
o que normalmente acontecia em meados/finais de Junho e inícios de Julho,
mas se apenas pensam vir no próximo ano poderá ser mais fácil encontrarem
campos de Girassol em floração.
A região do país onde era mais habitual encontrar tal cultura era no Sul
na região de Beja, região que agora está demasiado ocupada com olival intensivo,
mas que suponho ainda ter girassol.
Anotem o meu email: montedomel@gmail.com e através dele poderei dar
o meu contacto e se for possível ajudarei vocês a encontrarem o Girassol :)

Abraços
Joaquim Pifano